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quarta-feira, 24 de julho de 2019

WC




Muitas ideias de poemas deslavadas
surgem-me na casa de banho
vulgo wc
enquanto me lavo, afeito, barbeio e amanho
ou faço coisas menos perfumadas
já se vê

Quando me vejo ao espelho 
e reparo que um certo “eu” me olha olhos nos olhos
estranho
calado
ensaboado
ou quando me dou conta que mais um cabelo caiu 
ou que uma nova flor de ruga floriu

Há pensamentos que batem no vidro
se reflectem
e vêm refractar-se em mil cambiantes de angústia
no espelho embaciado da minha alma
como se de meras imagens poéticas
patéticas
se tratasse

Sou só eu a reflectir
procurando me distrair

Mas quando alguma ideia mais angustiada
cheira mal que tresanda
ou me causa dor
lanço mão do vaporizador
e purifico o espírito e o ar
com borrifos de lavanda

Como se vê
até no wc há lugar para a fantasia
quando se tem a alma inundada de poesia

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 13 de Novembro de 2008
Henrique Pedro

sábado, 20 de julho de 2019

Ora abóboras…




A primeira abóbora que despontou na minha horta
neste Verão
é este poema

Que eu ofereço com alegria aos deuses da poesia
para que jamais me falte a inspiração
para cozinhar
saborosas sopas de versos

Poema que é uma abóbora amarelada
rechonchuda
com um pequeno pedúnculo que o ligou à erva mãe
para se alimentar
e que agora apenas serve para se lhe pegar

Assim nem os mais perversos se atreverão a dizer
que este poema
não tem ponta por onde se lhe pegue

Até porque também tem o coração repleto de sementes
as pevides
que depois de secas e de novo lançadas à Terra
irão reproduzir novos poemas
com que se poderão cozinhar 
novas saborosas sopas de poesia

A primeira abóbora que despontou na minha horta
neste Verão
é este poema que só não aplaudirá
quem não gostar de sopa de abóbora
ou não perceber pevide
de poesia


Vale de Salgueiro, terça-feira, 16 de Junho de 2009
Henrique Pedro



domingo, 7 de julho de 2019

Uma angústia de nada




Uma angústia larvar me apoquenta desde que me conheço
e que em vão procuro decifrar

Não é problema de salário ou de pão

Muito menos da conta da electricidade
da falta de fama ou de glória
ou de males de coração

Sinto-me feliz fora da História
e se a energia eléctrica falhar
passarei bem sem internet e a televisão
porque tenho o sol e as estrelas para me alumiar

Amor?!
Tenho muito para dar 
não para vender
e pão…
até ver não tem sido preocupação

Também não tenho
tanto quanto sei
qualquer glândula avariada
o meu cérebro não sofreu qualquer pancada
e nesta estrada de angústia já aprendi a caminhar

São coisas mais complexas e etéreas que me afligem
e eu não sei explicar

É uma angústia de nada
um tudo-nada de angústia
que converto em poesia com alguma fantasia
e pura vontade de partilhar

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 17 de Janeiro de 2011
Henrique Pedro