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domingo, 29 de outubro de 2023

A quem me lê me confesso


Humilde poeta confesso

sempre falo de mim na poesia que escrevo

por não saber guardar segredo

 

Mesmo quando de mim nada digo

porque de mim nada sei

 

Mas mais de mim digo naquilo que de mim escondo

sem querer

do que naquilo que de mim tento não dizer

ou no que a mim mesmo escondo

sem saber

 

Mas quem me souber ler com perspicácia

vencerá a minha audácia em me esconder

e mais do que eu mesmo

de mim mais ficará a saber

 

De mim próprio apenas sei

confesso

que não sou não o poeta que penso

mas o poeta professo que ainda assim

gostaria de ser

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 9 de Outubro de 2008

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

AVÉ MARIA DE FÁTIMA


Não Se fez anunciar ao Papa

aos poderosos da Terra

às televisões e aos jornais

não teve guardas de honra

tão pouco trombetas angelicais

 

Por isso

eu

na minha humildade

sempre que passo por Fátima

na autoestrada do Norte

sem que nada mais me importe

sem outra razão aparente

interrompo a marcha de repente

 

Para me ir ajoelhar aos pés de Maria

sem intenção de nada Lhe pedir

apenas pelo prazer de reflectir

e de um santo Rosário rezar

 

Voo em silêncio por mim adentro

aliviado do meu fadário

ganho ali alegria

um novo alento

 

É Fé na verdade o que sinto

e ao que penso

um desejo de amor imenso

 

Vale de Salgueiro, sábado, 25 de Outubro de 2008

Henrique António Pedro

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Puro, Nu e Cru


Dispo a Alma

alijo a Razão

calo o Coração

e sigo em frente

puro, nu e cru

como se acabado de sair ventre

de minha mãe

 

Transfiguro-me em massa amorfa

sem vida nem esperança

em fraga

nuvem

gota

gás

 

Os poemas que escrevi

diluíram-se no vento

das rimas nada mais resta

 

Dos caminhos que trilhei

já o meu rastro se apagou

 

Se tento morrer

noto

porém

a impossibilidade de o fazer

porque ninguém é capaz de se matar

e de se apagar do Cosmos

com ou sem dor

só mesmo o Criador

 

Sou espírito acima de tudo

de novo me transmudo

 

Por isso amanhã lá estarei de novo

na terra que me espera

no chão em que vegeta meu coração

a viver com poesia

a alvorada de mais um dia

 

E depois de amanhã também

indiferente ao vento

à chuva

e ao frio

 

Puro, nu e cru

 

E a sonhar!

 

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 20 de Janeiro de 2010

Henrique António Pedrodro

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

A mim, nenhuma explicação me foi dada


Eis-me aqui!

 

Ninguém me disse para o que vinha

nem se alguém estaria à minha espera

 

Ninguém me perguntou quem eu era

que país

que cor

que língua eu escolhia

em que mares eu queria navegar

em que ares desejaria voar

 

Terra

deram-me Terra

e mais Terra

Céu e mais Céu

para ser eu a desbravar

 

Nenhuma explicação me foi dada

 

Porém

alguém me abriu com amor a consciência

e eu por mim deduzi

também

que ideia sem afecto é fraco tecto

é má ciência

 

Alguém que me pôs luz no coração

sublime opção de Redenção

 

Foi Cristo que me disse para onde vou

e como irei terminar

por isso entendo eu

ser legitimo acreditar

que não irei morrer

pelo que a minha opção

só pode ser

viver e amar

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 6 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

História de um amor tresmalhado

 



Não foi o vento não

 

Foi uma lufada da mais cruel verdade

um ciclone de desilusão

que soprou pelo Outono

na alma indefesa

demasiado presa

ao coração

 

Foi uma aragem de angústia

um sopro de saudade

eriçada a destempo

em tempestade

 

A chuva dissolveu os versos

o vento dispersou as palavras

 

E as sílabas voaram feitas folhas soltas

por entre ruídos

de ideias rasgadas

 

Que nas voltas e reviravoltas da amargura

retornaram à razão

entristecidas

com o espírito votado ao abandono

esfrangalhado

roído de dor

caído na loucura

 

Restou

este poema memória

história triste

crua

de um amor tresmalhado

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 17 de Abril de 2009

Henrique António Pedro

 

terça-feira, 17 de outubro de 2023

É assim que eu te amo


Com o viço do jacinto

que resplandece em cada dia

com o sol nascente

é assim que eu me sinto

quando te vejo surgir de repente

a sorrir

inundando de alegria

o ambiente

 

É assim que eu te amo

 

Com o encanto do poeta

em quem o sorriso de uma mulher bela

que graciosa lhe sorri

desperta inspiração

sem outra intenção

que não seja olhar para ela

e amá-la

só de contemplá-la

 

É assim que eu te amo

 

Com a doce sensualidade

que emana dos anjos

é como eu te amo

 

E de que outra forma haveria eu

de te amar?

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 4 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

 

sábado, 14 de outubro de 2023

Acendo a minha própria pira funerária

 


Ergo a minha própria pira funerária

numa planície erma e desolada

em dia de vento gélido, neve e geada

quando o Outono já é quase Inverno

fujo do inferno


Amontoo folhas secas perfumadas

esqueletos de roseiras decepadas

ramos de oliveiras bentas

farrapos de bandeiras

livros, sebentas e jornais inúteis

lembranças de amores vencidos

sucessos, insucessos e vãs glórias

histórias de encantar

confidencias de fazer corar

 

Coloco ideias loucas a servir de rastilho

ponho-me de pé no topo do monturo

em pose olímpica

qual estátua de Júlio César

de calvície coroada de folhas de louro

faço o meu próprio auto de fé


Risco um verso

 

De pronto fumega a minha épica loucura

em breve surgirão as primeiras chamas

 

Torturam-me imagens das viúvas indianas imoladas

dos relaxados nas fogueiras da Santa Inquisição

dos kamikazes dementes do Médio Oriente e do Japão

dos bombeiros imolados nas Torres Gémeas

das crianças degoladas na Palestina

e abandonadas à sua sorte maligna

 

Quando as labaredas me alcançam

e ameaçam queimar-me

expludo!

 

É o meu espírito que estoura como fogo de artifício

e se reintegra no seio de Deus

 

De mim poeta nada resta

porque a minha inutilidade é total

 

Apenas uns versos soltos

fumos sem fogo

com as quais o vento se diverte

insuflando-lhes vida aparente

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 2 de Dezembro de 2008

Henrique António Pedro


 

 

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

A vida é um rio e a morte é o mar

 


 

A vida é um rio

e a morte é o mar

vazio

 

Rio de fantasia

a correr sem parar

de montante para jusante

e por aí adiante

 

Rio de agonia

que corre

veloz

do nascimento até à foz

onde morre

 

E nós no meio das águas

a ver as margens passar

só mesmo com poesia

ousamos nele navegar

ao sabor da sorte

tentando não nos afogar

embora certa seja

a morte

 

Morte que é um mar

vazio

sem espaço nem tempo

nem outro lugar

 

A vida é um rio

e a morte é o mar

onde as almas almejam velejar

nas ondas do destino

rumo à Eternidade

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 6 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro

 

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

A rosa de Saron


Naquele palácio agora vazio

de paredes indignadas de silêncio

e martírio

 

Pedras chagadas pelo tempo

e pelo vento

pela areia que medeia novo tormento

cobiça de fantasmas

que se alimentam de miasmas

a gemer

 

Havia tapeçarias

e archotes a arder

bailarinas

e cisternas de águas cristalinas

 

Ali

fui principe e fui rei

essénio e soldado

enamorado

 

Ali matei e morri

e amei, amei, amei

 

Ademais

renasci

 

Ali

a rosa de Saron

o lírio dos vales

bálsamo de todos os males

se enraizou no meu peito

e não mais parou de florir

 

E Massada não cairá nunca mais

 

Jamais!

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 29 de Setembro de 2010

Henrique António Pedro

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Fadas, Faunos e Fragas

 


Quem me dera poder viver no seio da Mãe Natureza

Tendo por morada o ninho duma águia

A cova dum lobo

A covil dum cão

A toca duma amorosa raposa

Ou a lura duma lebre alegre

Como tantas que se acoitam com destreza

Nos fojos profundos do quadraçal

Onde há milénios corre silencioso

Em seu leito de mistério e emoção

Povoado de fadas, faunos e fragas

O meu amoroso rio Rabaçal

 

Pernoitar entocado entre penedos

Não sentir frio, calor ou medos

Nem outro incómodo maior

Que a mística enxerga matriz da humanidade

Que acomodava Francisco de Assis

 

Alimentar-me de medronho e de amoras silvestres

Beber água pura da nascente

Namorar ao luar

Tendo as estrelas como luzeiros para me alumiar

E a sinfonia tangida pela brisa do cair da tarde

Nas copas dos pinheiros altaneiros

Para me tranquilizar

 

Apenas morrer quando me apetecer

Deixando meus poemas gravados nas pedras disformes

Informes do amor e da verdade que a todos redime

 

E continuar a evolar com alegria

Nesta fantasia sublime

Qual fauno converso neste universo

Que é templo de palavras lavradas em verso

 

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 12 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro

 

 

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

No limiar da minha lembrança de criança

 


No tempo em que a minha lembrança

de criança

se inicia

 

E no meu entendimento

embora fosse Deus alguém que eu desconhecia

admitia

ainda assim

que fora Ele a criar meus avós

primeiro

e meus pais

depois

 

Embora fossem meus pais

que eu conhecia melhor

ainda assim

que moviam sós

todo o mundo só para mim

 

Eu nem sequer me conhecia a mim tão bem

como conhecia meu pai e minha mãe

 

Com eles partilhava um mundo que era só meu

que melhor eu bem compreendia

e sentia

porque ainda não sabia

que coisa era a dor

 

No limiar da minha lembrança de criança

não havia espaço sequer

para o sonho, o temor ou a esperança

ou para o que a Deus aprouver

 

Porque esse meu mundo era um mundo só meu

 e era só puro amor

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 3 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

sábado, 7 de outubro de 2023

Nem sei se ainda por aqui ando ou se já me fui embora daqui

 


Nem sei se ainda por aqui ando ou se já me fui embora daqui

 

Esta melancolia que me assola

em dias de chuva aborridos

ou quando o sol poente

me deixa lânguido da saudade

de quem anda ausente

estando embora presente

é uma tristeza deliquescente

mais própria dos vencidos

 

Abandono-me à nostalgia emergente

e paro de me angustiar

viro as costas às perguntas do costume

que sei

de antemão

não terem respostas

 

É quando uma morrinha miudinha

me toma os sentidos

a ponto de não me sentir nada

nem ninguém

nem magma

nem matéria

em nada materializado

em nenhum estado de espírito realizado

ocaso ou aurora

 

Fico sem saber se ainda por aqui ando

ou se já me fui embora daqui

se a poesia é coisa séria

ou não passa de uma pilhéria

 

Até que o ensejo de um bocejo sorri

me faz despertar dessa sonolência demente

e retomar a vida corrente

 

Vale de Salgueiro, domingo, 24 de Maio de 2009

Henrique António Pedro