Seja bem vindo/a. A mesa da poesia está posta. Sirva-se. Deixe, por favor, uma breve mensagem. Poderá fazê-lo para o email: hacpedro@hotmail.com. Bem haja. Please leave a brief message. You can do so by email: hacpedro@hotmail.com. Well done.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

À janela do avião



Ainda hoje me considero criança
sempre me sento à janela do avião
para poder vê-lo correr
com confiança
ainda no chão
veloz
potente
a sugar voraz tudo que encontra pela frente

E a ouvi-lo roncar
e a gemer para se erguer 
e depois voar 
suave
sobre as nuvens

Só não tomo os comandos
com o receio de que me tomem a mim
por terrorista
quando eu nunca deixei de ser
uma criança com medo da cadeira de dentista

Mas que solta o coração no interior do avião
e deixa a alma saltar de nuvem em nuvem
irreal
a disparar relâmpagos
para combater o medo e o mal
como São Miguel Arcanjo

Mas que acaba por adormecer
a sonhar
como um anjo
até o avião pousar


quarta-feira, 15 de maio de 2019

Pára-brisas partido



Chove
Suavemente por agora
Conduzo estrada fora com velocidade moderada não vá a viatura esbarar na estrada molhada
Mais apressadas, gostas de chuva delicadas, deslizam subindo no para-brisas contrárias à lei da gravidade 
Deixam rastos rectilíneos, efémeros, como se de cometas líquidos se tratasse.
Como sonhos que fossem e já não sejam
Também no pára-brisas partido da minha alma há partículas de saudade liquefeitas que sobem velozmente na minha mente qual antolhos que me humedecem os olhos, toldam a visão e encharcam o coração
Quando a chuva aumenta de intensidade acciono o limpa pára-brisas e deminuo a velocidade
Em plena trovoada de Maio acabo por estacionar num desvio de saudade dos tempos em que fui feliz sem o saber.
A imaginar imagens imprecisas
Caio em mim sem querer volto a ser o que sou a estar onde estou
A poesia é o limpa-pára-brisas da minha alma que me ajuda a melhor ver o caminho sempre que caminho sozinho

Vale de Salgueiro, 15 de Maio de 2019