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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Guardo o cérebro num frasco de formol



Angustiado
tremendo de medo
extirpo o cérebro com as minhas próprias mãos
para o expor ao sol e ao vento
e guardá-lo a meu lado no frasco de formol
colocado no penedo que me serve de assento

Com a mão direita espremo a memória
com a esquerda aperto a razão
que balanço com angústia incontida
tentando determinar
qual parte da consciência pesa mais
para a alma assim dissolvida

A memória apenas regista o instante em que a perdi

Será que algum dia existi?

A razão me diz que sem memória em que se apoiar
não poderá escrever história
fazer ciência
e projectar o devir

Será que algum dia voltarei a existir?

Da memória e da razão de mim separados
são os meus sentimentos levados pelas águas do rio
para o mar da loucura colectiva
onde enlouquecem

Enterradas nas areias
ficam
mesmo assim
ideias furtivas
que não aquecem nem arrefecem

Nada sinto
nem de bem nem de mal
não choro
não rio
nem sei onde moro
se existo
ou existirei

Apenas sei que sou consciência incorpórea
sem história
nem memória