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sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Quando a hora da minha morte chegar

 


Quando a hora da minha morte chegar

Quando a hora da minha morte chegar

se é que algum dia vou morrer

 

Quando o sangue se me esfriar nas veias

mais vivas e ardentes se revelarão as minhas  ideias

 

Entregarei o corpo com o coração na mão

à Mãe-Natureza para reciclar

que dele melhor fará

o que bem lhe apetecer

 

Serei húmus, seiva, sangue

vinho

aroma de pinho

erva aromática

papel de gramática

grão de jade

 

Ou tão só

 

 Quem sabe?!

 

Por mim

ainda assim

gostaria de me transformar num pinheiro viçoso

frondoso

altaneiro

num novo ser no seio do novo pinhal

que plantei com as minhas próprias mãos

ao sol do sonho

sem sombra de mal

 

As minhas mãos e os meus braços se converterão em ramos

e os pés em raízes

arreigadas bem fundo nas entranhas da terra

já preparada

à minha espera

saradas todas as cicatrizes

 

E o suor que transpirei agarrado à enxada

será a resina perfumada

que purificará o ar

e dará nova cor e vigor a novos pulmões

e a outros corações

que pulsarão do mesmo Amor

 

Mais vivas e ardentes se revelarão

então

as ideias

 

Elas serão o germe de novos sonhos

as sementes de novas poesias

de mais lúcidos dias

de mais clara Verdade

as palavras-chave da eterna Eternidade

 

Quando a hora da minha morte chegar

se é que algum dia vou morrer…

 

Quem sabe?!

 

Melhor será esperar para ver

 

Vale de Salgueiro, 21 de Fevereiro de 2008

Henrique António Pedro 

in Introdução à Eternidade (1.ª Edição, Outubro de 2013)