O
relógio da sala tocou a nota musical introdutória
com poesia
embora
igual para todas as horas certas
ou
incertas
(os
quartos e as meias têm outra melodia)
e
depois deu doze sonoras badalas
espaçadas
metálicas
marteladas
Entristece-me
que os mestres relojoeiros de relógios analógicos
não
hajam construído mais relógios zoomórficos
para
lá dos cucos a que damos corda
para
que continuem a cucar
mesmo
que não seja à hora certa
e o
seu canto
pela
certa
não
vá ninguém
acordar
Concorrendo
com os modernos “timers” digitais
dos
anúncios de néon feéricos nas avenidas
de dígitos
a piscar no ar
virtuais
com quantas
casas decimais se pretender
em
consonância com o que se quiser comprar
ou
vender
Preferia
continuar a ouvir os relógios analógicos a badalar
em
contraposição à insana inovação
que
põe milhares de relógios digitais a piscar
por
toda a parte
acelerando
o tempo destes tempos intemporais
e obrigando
as pessoas a correr
mais
e mais
Ainda
assim
quanto
a mim
todos
andamos dessincronizados com o Universo
presos
à sincronia de um mero verso
Por
isso preferia ouvir os relógios analógicos badalar
crocitar
cucar
e
porque não
balir
para
me despertar
pela
madrugada
Como
quando era o galo
madrugador
que
com seu estridente estertor
anunciava
a alvorada
Vale
de Salgueiro, sábado, 2 de Maio de 2009
Henrique
António Pedro