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sábado, 30 de novembro de 2024

Agora outros galos cantam pela madrugada



O relógio da sala tocou a nota musical introdutória

com poesia

embora igual para todas as horas certas

ou incertas

(os quartos e as meias têm outra melodia)

e depois deu doze sonoras badalas

espaçadas

metálicas

marteladas

 

Entristece-me que os mestres relojoeiros de relógios analógicos

não hajam construído mais relógios zoomórficos

para lá dos cucos a que damos corda

para que continuem a cucar

mesmo que não seja à hora certa

e o seu canto

pela certa

não vá ninguém

acordar

 

Concorrendo com os modernos “timers” digitais

dos anúncios de néon feéricos nas avenidas

de dígitos a piscar no ar

virtuais

com quantas casas decimais se pretender

em consonância com o que se quiser comprar

ou vender

 

Preferia continuar a ouvir os relógios analógicos a badalar

em contraposição à insana inovação

que põe milhares de relógios digitais a piscar

por toda a parte

acelerando o tempo destes tempos intemporais

e obrigando as pessoas a correr

mais e mais

 

Ainda assim

quanto a mim

todos andamos dessincronizados com o Universo

presos à sincronia de um mero verso

 

Por isso preferia ouvir os relógios analógicos badalar

crocitar

cucar

e porque não

balir

para me despertar

pela madrugada

 

Como quando era o galo

madrugador

que com seu estridente estertor

anunciava a alvorada

 

Vale de Salgueiro, sábado, 2 de Maio de 2009

Henrique António  Pedro

 

6 comentários:

  1. Olá...eu também continuo a me encontrar nos analógicos... saí da Capital do meu Estado (Bahia - Brasil), para viver numa cidade do interior, e ainda ouço a melodia do amanhecer anunciada pelo canto do galo. Amei seu poema.

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    1. Agradeço a simpatia da sua visita e a generosidade de suas palavras distinta Guacira. É grande privilégio sem dúvida o seu, ter esse contacto directo com a natureza. Abraço.

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