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domingo, 30 de dezembro de 2018

Dando tempo ao tempo




Apercebo-me de um mais débil pulsar
de badalas langorosas de cansaço
corro a dar corda aos meus relógios
para assim os espevitar
não vão eles parar
e com eles parar o tempo

Iludo-me…

Pensando que o tempo sou eu que faço
mas o tempo não tem origem em mim
apenas o mais puro sentimento
me vem de dentro

Ainda assim…

Como os maquinismos mecânicos
prolongam as horas e os dias
dos mecanismos do tempo
em badaladas mais sonoras
e prolongadas

Também…

Os beijos e os afagos
animam o bater dos corações
e reanimam
com seu calor
as maquinações da relojoaria do amor
e dão mais tempo
ao tempo

Mas o tempo…

Sempre está a acontecer
esgota-se por si só
com dor e desdém
sem dó nem piedade
e tudo acaba por morrer
de verdade

A menos que a mecânica celeste
com sua engrenagem cor-de-rosa
nos conduza em viagem
mais esperançosa…

… No além

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 22 de Abril de 2009
Henrique Pedro

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Cada poema que escrevo é um cigarro que acendo





Não fumo nem nunca fumei
não compreendo por isso esta imagem triste em que me inspirei

Cada poema que escrevo é um fósforo que risco
na obscuridade

Ouço-lhe o ruído breve
característico da ignição
esforço-me por proteger a chama pequenina da verdade
com a concha da mão
o tempo suficiente para acender um cigarro
de amor e martírio no meu coração

A sonhar que arde
aquece
ilumina
anima
e não mais se esquece

Se ata 
se ateia a outra e a outra candeia
em cadeia

Que é uma fogueira de ideia
de poesia
que ilumina a Terra inteira

Oh, Deus!
Cada poema que escrevo
é mais que um fósforo que risco
para acender um cigarro
a que me amarro
para deixar arder
e esquecer

É uma chama de amor que arde
sem se ver

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 27 de Outubro de 2010
Henrique Pedro

domingo, 9 de dezembro de 2018

Criar do Nada






Criar
é dar o ser a algo
ou a alguém

Criar do nada
não é poder de ninguém

Que criou, o homem, até hoje, do nada?

Nada!
De palpável, nada!

Nada que se veja, se palpe ou se ouça
Nem mesmo o pulsar silencioso do coração quando ama

Porque para se ver é preciso algo que reflicta luz

Para se ouvir é necessária alguma coisa que soe

Para se tactear é preciso algo que toque a pele

Para se dar vida é preciso algo que já vive

Para se acender uma fogueira é necessário algo que já arda

Nem mesmo um simples poema que seja sai do nada mesmo se o coração do poeta está vazio

O próprio nada matemático foi criado dos números inventados

O próprio amor não sai do nada
é fruto de matéria interior

Criar do nada é privilégio do Criador


Vale de Salgueiro, 09 de Dezembro de 2018
Henrique Pedro



quarta-feira, 5 de dezembro de 2018



Há momentos
quando cumpria a rotina nocturna
de me ajoelhar no centro da abóbada celeste
para rezar e reflectir
de olhos postos no Céu

Aconteceu tudo se transformar numa imensa dúvida
que implodiu a minha Razão
a fez colapsar
e me esmagou

Apenas me via e sentia
como o ser mais insignificante do Cosmos
sem ter explicação para nada

Mas o meu coração transbordava de algo maior que o Universo
que me fez levantar
e continuar a olhar a noite
ainda angustiado
mas de pé

Algo que apenas sei traduzir por duas letras

Fé!

Vale de Salgueiro, terça-feira, 2 de Setembro de 2008
Henrique Pedro

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Bolhas de Amor




Os peixes nadam circunscritos ao meio aquático
soltando bolhas de ar sempre que vêm à superfície
e que se perdem na atmosfera

As aves voam nos céus agitando o ar com as asas
sem ousarem libertar-se da terra

Os humanos são mais que animais

São bolhas de vida
confinadas à campânula de ar que envolve a Terra
que soltam bolhas de ideias que se evolam
e se perdem no espaço

São ainda mais na verdade

São bolas de sabão insufladas de razão
a flutuar no ar

Bolhas de espírito preso a ideias e afectos 
a procurar libertar-se das teias da animalidade

Bolhas de amor
que explodem no seio do Criador

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 8 de Março de 2010
Henrique Pedro

domingo, 2 de dezembro de 2018

Em Dezembro





Em Dezembro o Inverno é um inferno
frio e cinzento
contratempo

A alegria é triste
e o silêncio é denso
pesado
compassado

As noites são longas
e os dias
longos crepúsculos
opúsculos de impaciência

É tempo de reflexão
hora de resistir à impaciência
de despir por dentro
e vestir por fora
como se nos estivéssemos a despedir
sem saber para onde ir

Em Dezembro
as abelhas dormem nas colmeias
em suas celas de cera e mel
à espera da Primavera

Já as primeiras flores de laranjeira
nascidas a destempo
foram sacrificadas o vento gélido
e à geada
do Inverno cruel

Como o primeiro amor
que ainda em flor
foi tolhido pela intempérie
e atirado ao vento
num insano gesto
impensado pensamento

Em Dezembro
o vento é um longo lamento


Vale de Salgueiro, sexta-feira, 30 de Janeiro de 2009
Henrique Pedro