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sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Em que órgão do meu corpo reside a minha alma?



in “Angústia, Razão e Nada “ (Editora Temas Originais-Setembro 2009)

 

Em que órgão do meu corpo

Reside a minha alma?

 

Qual náufrago exausto que luta por alcançar a praia

 E não se afogar

 

Qual ébrio bamboleante

Que procura regressar

Sóbrio

Ao lar

 

Ante a vida que muito me angustia

E mais me humana

Sempre procuro saber

E me interrogo

Tentando perceber quem sou

E onde moro eu, afinal

 

Sempre concluo

Que não moro em lado nenhum

Que não sou nada, nem ninguém

Nem resido em órgão algum

 

Penso

Mas não moro no cérebro

Respiro

Mas não moro nos pulmões

Amo

 Mas não moro no coração

Irrito-me, mas não moro na vesícula biliar

Regurgito de desejo, mas não resido nos testículos

 

Penso, sofro, desejo, como e estimo

Mas não sou olhos

Nem ouvidos

Nem glândula timo

Nem estômago

Nem membro social

 

Ora me sinto bem

Ora me sinto mal

Mas não moro

Nem me demoro

Em lado algum

Nem aqui

Nem além

 

Os meus órgãos são apenas portas

E janelas

De mim para o meu corpo

E do meu corpo para o mundo

Mas eu não moro em nenhum deles

Apenas neles vivo temporariamente

Por divino acaso e contratempo

 

Sou livre de espaço e de tempo

Não tenho Sul nem Norte

E só porque sou eterno

Tenho consciência da morte

 

 

Vale de Salgueiro, 27 de Abril de 2008

Henrique António Pedro