in “Angústia,
Razão e Nada “ (Editora Temas Originais-Setembro 2009)
Em que órgão do meu corpo
Reside a minha alma?
Qual náufrago exausto que luta por alcançar a praia
E não se afogar
Qual ébrio bamboleante
Que procura regressar
Sóbrio
Ao lar
Ante a vida que muito me angustia
E mais me humana
Sempre procuro saber
E me interrogo
Tentando perceber quem sou
E onde moro eu, afinal
Sempre concluo
Que não moro em lado nenhum
Que não sou nada, nem ninguém
Nem resido em órgão algum
Penso
Mas não moro no cérebro
Respiro
Mas não moro nos pulmões
Amo
Mas não moro no coração
Irrito-me, mas não moro na
vesícula biliar
Regurgito de desejo, mas não resido
nos testículos
Penso, sofro, desejo, como e
estimo
Mas não sou olhos
Nem ouvidos
Nem glândula timo
Nem estômago
Nem membro social
Ora me sinto bem
Ora me sinto mal
Mas não moro
Nem me demoro
Em lado algum
Nem aqui
Nem além
Os meus órgãos são apenas
portas
E janelas
De mim para o meu corpo
E do meu corpo para o mundo
Mas eu não moro em nenhum deles
Apenas neles vivo
temporariamente
Por divino acaso e contratempo
Sou livre de espaço e de tempo
Não tenho Sul nem Norte
E só porque sou eterno
Tenho consciência da morte
Vale de Salgueiro, 27 de Abril
de 2008
Henrique António Pedro
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