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segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Doida, doída, dorida.





A poesia é parte da vida
amorável
inexplicável
irracional
doida
doída
dorida

A poesia é a génese das religiões
ainda que o Amor e a Fé
não sejam poéticas
construções

Melhor que nada, que outra coisa nenhuma
a poesia nos inuma na tristeza
nos liberta do real
nos desperta no irracional
nos afunda nas raízes profundas do ser
daquilo que verdadeiramente é
nos despoja do ter e do haver
mais nos aproxima do bem
e nos afasta do mal

Por mais que se pense
ou não pense
se diga ou se fique calado
extasiado
a olhar o céu

A poesia é o que é:
Nonsense

Vale de Salgueiro, 12 de Novembro de 2007
Henrique Pedro

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Falar de amor por falar




Apraz-me falar de amor por falar
despreocupadamente
seja com que mulher for

Madura
balzaquiana
adolescente
mundana
casta
beata
rameira de vida indevida
casada
solteira
ou simplesmente nubente

Estando apaixonados
ou nem tanto

Enamorados pela vida e pela verdade
com o encanto do vento
que sopra tal encantamento
por nós a dentro
sem nos causar ansiedade

Em tarde morna de Outono
ou em dia tórrido de Verão
enquanto tomamos chá
café ou laranjada numa esplanada
ou à lareira para espantar o sono
sem outra condição
que não seja misturar amor, arte e fé

Passeando à beira mar de mãos dadas
mesmo sem nada dizer

Ou deitados desnudos
na praia
na cama
ou em qualquer outro lugar

Assumida que seja entre nós
a uma só voz
a inocência cristalina de ser o amor
a razão única que nos anima

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 9 de Dezembro de 2009
Henrique Pedro

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Melopeia nupcial





Ouvi
de um sibilino espírito de virtude
que etéreo habita o mítico templo do conhecimento
esta sábia sentença, que assumi como fadário:
«Só o fogo do amor vence o frio da vida terrena
mantém o corpo ágil e livre do envelhecimento torpe
e rasga com luz a sombra da noite da morte.»

Deitei-me nu
com a minha amada desnuda
virgem
imaculada
em alvos lençóis de linho cru
da cor da geada
em noite escura e fria de Inverno
à procura do fogo eterno
da felicidade

Logo ao primeiro beijo se inflamou o desejo
como se beberamos vinho
e os lençóis tecidos de áspero linho
se converteram em fina e rendilhada cambraia
e os corpos enlaçados em suave movimento
se iluminaram na obscuridade do aposento
da mais doce e sublime luminosidade

Acendeu-se a chama do amor no frio da noite escura
almas envoltas em vapor de ternura e paciência
sublime ignescência do fogo que arde e não queima
felicidade que não tarda e perdura
por tempo indeterminado

E os alvos lençóis de linho da cor da geada
transformados logo ao primeiro beijo
na mais fina e diáfana cambraia
ficaram rendilhados por fios do meu sémen quente e incolor
e pela cor carmim do sangue rosa da minha amada 
produto do nosso amor e desejo ardente

E o fogo do amor daquela noite de núpcias sentida
gravou para sempre nas nossas almas e mentes 
com fios de ternura, sémen e sangue rosa carmim
o destino e boa sorte que perdura pela vida
e que assim sobrevirá feliz para lá da morte


Vale de Salgueiro, 18 de Novembro de 2007
Henrique Pedro

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Amor de Outono




Perde o Verão o entono da paixão
a partir do nono mês
quando o Outono sazão
faz valer o brilho
da sua palidez

As andorinhas
ladinas
rumam para sul
o silêncio tomba no paul

O rebanho deserta
da sombra do negrilho
onde dormia a sesta
em busca de erva tenra para tosar
nos campos já a verdejar

Diga-se
em abono da verdade
que o Outono
com sua morna cor
é uma festa
com bandos de folhas de esquecimento
a voarem pelo ar
tocadas pelo vento
da saudade

É tempo de sonhar
sonhos mornos de amor
doce forma de amar

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 24 de Setembro de 2012
Henrique Pedro