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quarta-feira, 24 de junho de 2020

Maria Soledade





Maria Soledade

in Mulheres de Amor Inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)

 

Marcámos encontro para o sítio de sempre
embora de antigamente
num banco de jardim à beira do passado
que 
como sempre

embora antigamente
se encontrava desocupado

Ambos na ilusão de que voltaríamos a passear de barco

abraçados
como cisnes enamorados

Eu

ansioso

julgava reconhecê-la em cada transeunte

que se aproximava
e que tentava reconhecer-me

Ela

ainda assim

já se encontrava sentada no banco ao lado
há tanto tempo quanto eu
sem que eu a tivesse reconhecido a ela

nem ela a mim

Eu escutava

sim

os seus pensamentos
que eram eco dos meus

Mas não!


Não era ela aquela que eu amei
ela não era aquela que me amou
eu não era aquele que ela amou
nem eu era aquele que a amou a ela

Acabámos por voltar a partir
sem sequer sorrir
como se nem um nem o outro
tivéssemos comparecido ao encontro

Embora continuássemos convictos
de que ainda nos amávamos

Como sempre
embora antigamente


Vale de Salgueiro, sábado, 23 de Maio de 2009
Henrique António Pedro


segunda-feira, 22 de junho de 2020

Valquíria Sigrdrifa




Sinto-lhe o sopro
Finjo-me morto

Beija-me a pele
Besunta-me de fel

Beija-me os pés
Para mos decepar

Beija-me as mãos
Rói-me os dedos
Rouba-me os segredos

Beija-me os ouvidos
Para me ensurdecer

Beija-me a boca
Para me emudecer

Beija-me o sexo
Para me capar

Beija-me o coração
Exangue
Chupa-me o sangue

Beija-me os olhos
Para as lágrimas
Me sugar

Beija-me a face
Para me desfigurar

Está escrito
Resisto

Beija-me de morte
Sem me matar

Quer-me vivo
Nem morto nem vivo
Seu quero ser

Vá para onde eu for
Sigrdrifa me persegue
Com ardor

Beija-me a alma
Sugar-me o espírito
Não consegue

Sou um guerreiro invicto
Jamais um proscrito

In “Mulheres de Amor Inventadas”
Vale de Salgueiro, terça-feira, 10 de Agosto de 2010
Henrique Pedro