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sábado, 11 de novembro de 2023

Palavras que devem ser ditas

 


Há palavras que devem ser ditas

reditas

escritas

bem-ditas

escutadas

repassadas

ainda que possam ser censuradas

e o poema amaldiçoado

proscrito

 

Uma legião imensa de pobres criaturas

morre de fome de pão

de sede de amor e de água

metamorfoseados em espectros

de miséria e morte

 

Enquanto doutra sorte

uma pequena parte da Humanidade

ou o que dela resta

vive túrgida

anafada

sobrealimentada

 

Em permanente Entrudo

feito de tudo e de nada

de paródia

ilusão

e vanglória

 

Lambuzada de vícios e de guerra

falsidade

vaidade

prepotência

intolerância

sexo

e escândalos sem nexo

 

Procuram a santidade alguns

é verdade

poucos

muito poucos

quase nenhuns

 

Um dia porém

no tempo e espaço de cada um

tudo acabará podre

putrefacto

feito em merda

fase derradeira

da mais cruel e disforme metamorfose animal

 

O mais belo corpo de mulher

por mais sensual e perfumada que seja

o mais poderoso ditador

o mais glorioso doutor

a obra poética mais festejada

tudo acabará em nada

espuma de coisa nenhuma

 

Nem os ossos se aproveitarão para os cães roer

transformados em cheiro nauseabundo

de cadáver a apodrecer

em escárnio e mal dizer

em esquecimento perdido no vento

 

E todas as bombas atómicas da Terra

valerão menos que um fotão perdido no Cosmos

 

Todas as alegrias e dores

sorrisos e lamentos

entrarão no esquecimento

varridos da memória

vazios de nada e de ninguém

 

Para os que não crêem na alma

a vida não passa de uma mera perda de tempo

ante a niilista metamorfose final

 

Salva-se a palavra de Jesus Cristo

porém

e salva-nos a nós

a esperança de que seremos outros

melhores e mais felizes em espírito

no Além

 

Por isso eu que sou livre

e tenho o coração liberto

de deslumbramento e ambição

e não venero nenhum césar na Terra

ou outro mito qualquer

apenas glorifico o Amor e louvo a Deus

qual gladiador a caminho para a morte

 

Deixemo-nos de jactância e vaidade

sejamos humildes

cultivemos a Temperança

e a Amizade

e pratiquemos a Caridade

 

Vale de Salgueiro, 23 de Novembro de 2007

Henrique António Pedro