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quinta-feira, 30 de junho de 2022

Com este poema me despeço

 


Com este poema me despeço

Sem que a mim

A nada

E a ninguém

Diga adeus

 

A minha partida

Só será definitiva

Apenas acontecerá numa alvorada distante

Iluminada

 

Quando sobre a Terra reinar nova Civilização

Sem Política

Nem Religião

 

Quando a Humanidade estiver viva

E livre

E a vida for

Um hino de louvor a Deus

 O Criador

 

Se a vida sobreviver na Terra

À fome

À sede

À mentira

E à guerra

 

Só então direi adeus

Ao mundo presente

E me tornarei ausente

 

Com este poema me despeço

Sem que a mim

A nada

E a ninguém

Diga adeus

 

Vale de Salgueiro, sábado, 27 de Junho de 2009

Henrique António Pedro


quinta-feira, 23 de junho de 2022

Pinus, a árvore da serenidade

 



Pinus é o meu dilecto pinheiro manso

que plantei ainda na adolescência

era ele um tronco frágil e pequenino

uma ágil, verde e viçosa excrescência

 

Abri uma cova no solo sáfaro

à força dos músculos e da enxada

enchi-a de terra fresca e macia

reguei-a com amor, suor e fantasia

e ali deixei a planta pequenina

bem protegida e aconchegada

entregue aos desígnios do Criador

 

Mas vi-o crescer ano após ano

cada dia mais forte e desmedido

tornar-se árvore imponente

admirada por toda a gente

paradigma do espírito humano

sereno, vigoroso e desinibido

 

Resiste, agora, às maiores tempestades

indiferente, em seu tronco robusto

apenas de copa em sereno agitar

para, mais sensato, as deixar passar

 

Mas quando a brisa é doce e suave

entoa então melodias de encantar

que acalmam o espírito intranquilo

e amaciam o coração expectante

com mensagens do Cosmos distante

que apenas eu ouso decifrar

 

Mil vezes penso no meu íntimo

certo de ser ouvido por Pinus

o meu dilecto pinheiro manso

que valeu a penas ter nascido e viver

só para o plantar a ele e o ver crescer

 

Deu-me Deus este privilégio

este insondável sortilégio

de aprender com aquele lenho vivo

a crescer robusto e sereno

e a resistir firme à adversidade

a fazer da vida um hino de Alegria

plena de Poesia e de Verdade

 

Henrique António Pedro

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)


segunda-feira, 20 de junho de 2022

Impossível é viver sem sonhar


Caminho

calado

para lado nenhum

 

Percorro com a vista tudo que me rodeia

sem nada ver

ouço ruídos de fundo

sem perceber qualquer som

 

Embora mantenha os olhos

e os ouvidos abertos

todos os sentidos despertos

 

Calo também o coração!

Deixo-me de sonhos

e de afectos

 

Passo horas esquecidas assim

a vaguear por tudo quanto é sítio

fora de mim

sem passar por sítio algum

 

Há um instante em que paro, porém

ouço passos atrás de mim

 

Há uma pedra em que tropeço

um raio de luz que me induz

uma voz que me desperta

 

Sou eu que a mim mesmo me persigo

e que a mim mesmo me diz:

- Não! Tu não me podes fugir, assim!

Impossível será viveres sem sonhar

sem amar

sem acreditar

 

Sem ter fé

 

Henrique António Pedro

in Introdução à Eternidade (1.ª Edição, Outubro de 2013)


domingo, 12 de junho de 2022

A dor de amor é mais dor e mais dói


A dor de amor é mais dor e mais dói

se é só nossa

e é uma luta interior

 

A dor de amor é maior e mais dói

se não temos ninguém

um amigo, um pai, uma mãe

com quem desabafar

e que confortar

nos possa

 

A dor de amor é mais dor e mais dói

se gritamos ao vento o nosso lamento

e nem o vento nos sabe escutar

 

A dor de amor é mais dor e mais dói

quando só nós

de nós

sentimos pena

 

Mas a dor de amor é menor e menos dói

se a dor de amor

só dói

em poema

  

VS, 10 de Agosto de 2009

Henrique António Pedro


sexta-feira, 10 de junho de 2022

Que mil bombas de amor deflagrem sobre a Terra


Calar a verdade é mentir

 

Dar para receber é comprar e vender

 

Mentir é subtrair

 

A paixão sem amor é uma forma de odiar

 

Proclamar a paz a pensar na guerra

é uma forma de guerrear

 

 

Que os vírus malditos sejam de pronto circunscritos

 

Que o ódio e o terror não vençam o amor

 

Que os donos do mundo reflictam

para que Hiroxima e Nagasaki se não repitam

 

Urge libertar a Humanidade do vício e da animalidade

 

Que mil bombas de amor deflagrem sobre a Terra

para que a Paz triunfe sobre a guerra

 

Vale de Salgueiro, 1 de Setembro de 2007

Henrique António Pedro


quinta-feira, 9 de junho de 2022

O tempo: epifenómeno do movimento.

 


 

Existe em função do movimento

O tempo

 

Do espaço

E do embaraço da Razão

Tomada de ilusão

 

Sucessão de acontecimentos

E de eventos

Que ocorrem sem cessar

De que só o Espírito

Mais puro que o pensamento

É capaz de se libertar

 

O tempo

Epifenómeno-do movimento

 

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 22 de Abril de 2009

Henrique António Pedro


quarta-feira, 8 de junho de 2022

Se os poetas amassem sinceramente

 


Se os poetas amassem

sinceramente

não fariam do amor

poesia

 

Limitavam-se a amar como toda agente

tão somente

porque amar

não é fantasia

 

Se os poetas sofressem

verdadeiramente

não fariam da dor

poesia

 

Limitavam-se a sofrer como toda a gente

tão somente

porque amar

não é filosofia

 

Os poetas, porém

nem amam somente seus amores

nem apenas sofrem suas dores

amam os amores e sofrem as dores

dos demais

 

E espalham por toda a parte

poemas intemporais

versos de dor

de amor

ou de combate

 

Se os poetas amassem e sofressem sinceramente

amavam e sofriam como sofre e ama toda  agente

mas ao amor

e à dor

faltava poesia

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 27 de maio de 2014

domingo, 5 de junho de 2022

“Dies irae, dies illa”


Lúgubres são os anos

Trágicos os enganos

Adventos de piores tempos

 

Nunca houve tanta miséria

Tamanha opressão sobre a Terra

Tão desumana foi a guerra

Tão cruel a carnificina

Tão generalizada a fome

Tão exposta a doença

Tão desmedida a ambição

Tão descarada a ofensa

Tão global a maldição

 

Nunca tantos aviões voaram nos ares

Tantos rios foram aprisionados

Tamanha a poluição dos mares

Tantas as árvores derrubadas

Tantos animais violentados

Tão fundo a terra foi esventrada

Tão generalizadamente o solo conspurcado

 

Quantos mais aviões vamos pôr a voar?

Quanto mais auto estradas vamos abrir?

Quantas mais bombas vamos fabricar?

Quanto mais petróleo queimar?

Quantos mais infelizes vamos deixar morrer?

Quantos mais animais vamos chacinar?

 

O coração da legião dos famintos

E dos moribundos excluídos do mundo

Já entoa em tétrico silêncio

Acordes de “dies irae”

 

De ira são os dias que se avizinham…

Oh homens e mulheres de boa vontade!

Promovei desde já a mudança!

 

Dies ira … dias de Ira

Dies ila …dias de Esperança


Vale de Salgueiro, 6 de Dezembro de 2007

Henrique António Pedro