Seja bem vindo/a. A mesa da poesia está posta. Sirva-se. Deixe, por favor, uma breve mensagem. Poderá fazê-lo para o email: hacpedro@hotmail.com. Bem haja. Please leave a brief message. You can do so by email: hacpedro@hotmail.com. Well done.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

A tocar o burro à nora



Ainda há pouco tempo se ouvia

qual monocórdica sinfonia

o tilintar metálico da nora

a ecoar campos fora

como se fora

agrícola harmónica

 

Tocada sem lamento

pelo paciente jumento

que o garoto descalço

que seguia no seu encalço

de pronto zurzia

se acaso a sinfonia se calava

porque o tocador parava

estático

a pensar

ou tão só para urinar

 

Às voltas andavam o burro

o rapaz casmurro

e os alcatruzes de lata

enquanto a água de prata

corria regos fora

na horta de ao pé da porta

 

Assim era outrora

ainda não há muito tempo

mas assim já não é agora

sem jumento

nem nora

 

Agora o garoto casmurro

que ora ri ora chora

toca a roda da vida

igual à do burro de nora

dorida de cruzes

alcatruzes

e devaneios

 

Que ora rodam cheios

de ambição

ora vazios

de desilusão

 

Vale de Salgueiro, 13 de abril de 2018

Henrique António Pedro