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quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Porque se não liberta já de mim a minha alma?


Fixo o olhar
em nenhum lugar

e sem nada ver


Deixo o tempo correr

em silêncio


Ouço o relógio do Cosmos
a tiquetaquear
o cronómetro da vida
a gemer

 
A pedra em que reclino a cabeça
trilha-me a pele do crânio
o coração
espontâneo
entra a palpitar


Porque se não liberta já de mim a minha alma?
Porque não saio eu de mim?
Será que alma não tenho?

Porque continuo assim
prisioneiro de ossos e músculos
glândulas e vísceras
de ideias abstrusas

e sem nexo?

Porque me amarro ao espaço
e ao tempo
se o espaço se limita no infinito
e o tempo se esgota na eternidade?

Se alma eu não tivesse
o meu corpo dono não teria
e ficaria ao abandono


Ao deus-dará

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 21 de Junho de 2012

Henrique António Pedro