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sábado, 29 de junho de 2019

Cantar de encantar a pedra



Não me consta que houvesse
mestre maçom
por mais iluminado
que de porpianho mais soubesse
que o pedreiro Justiniano
embora ele não fosse
nem crente nem ateu

Encantado ficava eu
ouvindo o mestre canteiro
cantar à cantaria
que ele próprio esquadrou
nas fragas do inóspito 
e sombrio quadraçal

Ei pedrinha ou…
ei pedrinha ou…

E o tosco bloco de granito
mais pesado que a cruz de Cristo
deslizava enlevado
por via da magia
do laico cantochão

Leve como a água de poesia
que então se vertia
na cabeça do neófito
na pia baptismal
em busca da salvação

Ei pedrinha ou…
ei pedrinha ou…

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

A mulher é mais mulher…



Poderá a mulher que me encanta
ser santa
cientista
poeta
analfabeta
actriz
feliz
infeliz
artista
heroína
grande ou pequenina
governante
amante
capitalista
proletária
revolucionária
ou o que calha

Poderá a mulher que me atrai 
ser um amor
seja ela qual for
e amar alguém
rir ou chorar
ou mesmo nem a ninguém amar

A mulher é mais mulher
porém
quando ama o homem
e é mãe

E o homem é mais homem também
quando ama a mulher
e é pai


Vale de Salgueiro, quarta-feira, 12 de Agosto de 2009
Henrique Pedro

quarta-feira, 26 de junho de 2019

AQUI…







Aqui, cume do monte dominante
De um reticulado curvilíneo
De colinas moldadas no fascínio
Da alma do poeta diletante

Aqui, nasceu, em mim, a poesia
Pela magia do amanhecer
Com reflexos de fé e bonomia
Que também brilham ao entardecer

Aqui, sempre me quedo, radiante
À hora que o Sol se põe, sanguíneo
Por detrás do horizonte distante

Aqui, face ao Mundo a sofrer
Ao Senhor dos Aflitos eu pedia
Não deixasse, Ele, de lhe valer…

Vale de Salgueiro, domingo, 10 de Agosto de 2008
Capelinha do Senhor dos Aflitos (Alto da Serrinha)
Henrique António Pedro

domingo, 16 de junho de 2019

Nasci nu



Nasci nu
e descalço
num dia de Dezembro frio se bem lembro
sem anéis como os filhos dos reis
apenas agasalhado pelo amor de minha mãe
que me vestiu com a roupa que Deus lhe deu
graças a Deus

Nasci nu
sem percalço
com pernas para andar
braços para abraçar
pulmões para respirar
cérebro para reflectir
e coração para me emocionar

Ainda criança
aprendi com as pernas caminhar
com os olhos ver
com os braços abraçar
com coração sentir
e com todo o meu ser
a sofrer, a amar, a ter esperança e a acreditar

Ainda não parei, porém, de aprender
mas já deu para perceber
que dor e amor são pétalas e espinhos da flor
da verdade

Esta é a imagem que guardo da vida
no mais fundo do meu ser
é o sentido do meu viver

Um dia me despedirei do mundo
para renascer
com a alma cheia de amor
e o espírito pleno de eternidade

Vale de Salgueiro, 15 de junho de 2019

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Desde que passei a usar chapéu



Sou um homem diferente
desde que passei a usar chapéu
o que aconteceu recentemente

Já o vinha sendo antes
sem me dar conta
a cada cabelo que caía
sem me aperceber
à medida desmedida
da tristeza do dia
em que nova ruga desponta

É o sol de Verão a dardejar-me o crânio
a mordicar-me a pele
capaz de me fritar os miolos
que me impele a usar chapéu
ou boné seu sucedâneo

Se querem saber a verdade
a idade traz outra luz
novo conceito de beleza
mais respeito e lhaneza
vemos a vida com outros olhos
se usamos chapéu a preceito

Livres de ilusões
o mundo já não nos seduz
já não vamos em sermões
somos fiéis à nossa fé
tudo se concerta e compõe
e já nada nos põe
os cabelos em pé

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 28 de Novembro de 2012
Henrique Pedro