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segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

ESTA SAUDADE CADELA

 


ESTA SAUDADE CADELA


Esta saudade cadela

morde-me e ladra-me a toda a hora

furiosa

e não me deixa dormir

 

Em vão tento amansá-la

imaginando a minha amada

saudosa

a sorrir-me

amorosa

a escrever este aerograma

que agora tenho na mão

e em que me diz que me ama

 

Aerograma que leio e releio

e mas mais me enleio

nesta cruel nostalgia

saudade cadela

insidiosa

que à lua ladra à toa

 

Só mesmo a poesia

dá conta dela!

 

Nangololo, Cabo Delgado (Norte de Moçambique), Agosto de 1972

Henrique António Pedro

In Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)


sábado, 28 de janeiro de 2023

Felicidade é Amor e Verdade caminhando de mãos dadas

 


Felicidade é Amor e Verdade caminhando de mãos dadas

 

Mal diviso o fim da rua recta

artificialmente ruidosa

e iluminada

em que caminho

 

Desemboca no mar da ilusão

 

O meu destino não aponta para aí, porém

procuro a verdade

olho mais além

 

Terei que curvar já na próxima esquina da liberdade

 e domar o coração

 

A verdade é grande e fina

ocupa todos os lugares da vida

e anda de mão dada com o amor

 

E o amor só pode ser puro

imenso

imaculado

e tomar todos os espaços do Universo

ainda que caiba ma letrinha de um verso

 

E a Felicidade é o Amor e a Verdade

caminhando de mãos dadas

 

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 21 de Dezembro de 2010

Henrique António Pedro

domingo, 22 de janeiro de 2023

Sonho súcubo

 


Sonho súcubo

 

Veio ter comigo a meio da noite

para reviver o passado

em cenas sensuais de sonho súcubo

alado

 

Desapareceu no momento mais asado

quando o sonho ameaçava tornar-se realidade

 

Não era ela de verdade

 

Era um demónio súcubo

apostado em torturar-me

 

Sou eu

um anjo íncubo

que ainda anda um tanto amargurado

e teima em atormentar-se

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 16 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Será que já vivi tempo demais?!

 



Será que já vivi tempo demais?!

 

Já todos os rostos me parecem parecidos

todas as vozes me são familiares

todas as pessoas julgo conhecer

daqui, dali

de um qualquer lugar

 

Já todas as cidades para mim são iguais

já todas as viagens foram, por mim, viajadas

já todas as pessoas foram por mim cumprimentadas

já nada a mim me poderá surpreender

já nada será capaz de me pasmar

 

Será que já vivi tempo demais?

Que já amei o suficiente

Mais ainda do que ama toda a gente?

 

Mas eu ainda tenho tantos poemas para escrever!

Tantas pessoas a quem amo e desejo amar ainda mais!

 

Só me resta mesmo deixar de sonhar

de passar as noites acordado

ensimesmado

sem saber para que lado me hei-de voltar

 

Só me resta mesmo tudo recomeçar

sem de nada me esquecer

tanto é o tempo

que ainda tenho

para viver

 

Lisboa, sexta-feira, 11 de Novembro de 2011

Henrique António Pedro

 

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Na rua do amor

 


Na rua do amor


Bati à porta dela

na rua do amor

com pancadas do coração

a bater de dor

 

Espreitei pela janela

a casa estava vazia

e ela

ausente

 

Demente

decidi esperar

a sofrer

sem aparente razão de ser

 

Fiz da minha sina rima

do desejo verso

do lamento melopeia

do ensejo ideia

do universo poema

da paixão poesia

 

Amor perverso

dilema

choro

cantar

nostalgia

 

Maior desgraça vai ser se um dia

sua graça voltar

ainda que eu duvide

que me convide

a entrar

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 15 de Novembro de 2011

Henrique António Pedro


domingo, 15 de janeiro de 2023

Eu não moro na Terra

 


Eu não moro na Terra

Eu não moro na Terra

Nem no Espaço

Ou no Céu

 

Moro dentro de mim

 

Aqui sim

Nasci

Vivo

Morro

Ressuscito

Habito

 

Daqui parto

À descoberta do Universo

Mergulho no mar

Voo no ar

Procurando descobrir quem sou

E encontrar a quem mais amar

 

Aqui sim

É onde moro

E me encontro

 

Na Terra sou um proscrito

Um condenado à morte

 

Para onde vim

Destinado a sofrer

A morrer

A tentar melhor sorte

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 12 de Março de 2009

Henrique António Pedro

in Introdução à Eternidade (1.ª Edição, Outubro de 2013)


segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

GIOCONDA

 


GIOCONDA

 

A sua boca cala-se
e se fala
é para nada me dizer

Pudesse eu adivinhar o que os seus olhos dizem 

Pudesse eu ter a certeza de bem interpretar o seu olhar

Pudesse eu ouvir nos seus olhos

o seu coração a bater por mim

já que abraçá-la não posso

 

Se me aproximo

afasta-se

mas continua a olhar-me

de longe

distante

e eu continuo sem nada entender

 

Sinto no seu olhar

que o seu coração bate por mim

só para me perder

 

Que os seus olhos mal me dizem

o que me quer dizer

porque tem medo de se prender

 

Eu fico desolado

a moer

e a remoer

o significado

desse seu olhar enfeitiçado


Porque a sua razão decide não dizer

o que o seu coração lhe diz

e que os seus olhos mal me dizem

 

Vale de Salgueiro, domingo, 25 de Abril de 2010

Henrique António Pedro

in Mulheres de amor inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)


segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Quando, por encanto, me dei conta…

 


Quando, por encanto, me dei conta…

 

Quando

por encanto

me dei conta

de que também ela de mim gostava

já há muito tempo ela suspirava

à espera de que eu lhe declarasse

o meu amor

 

Porém

quer eu

quer ela

sentíamos que assim sofrer

era a mais bela forma de prazer

 

Uma dor gostosa

uma amorosa imanência de que ela padecia

com paciência

e de impaciência me fazia

a mim

padecer

 

Porque o gozo maior daquela insana dor

não era sequer um dilema

tão pouco um dissabor

 

Era sim

tão só

puro amor

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 27 de Março de 2012

Henrique António Pedro