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quarta-feira, 26 de maio de 2021

Onde é o além?


Deito-me

em decúbito dorsal

relaxado

livre do bem

e do mal

 

Envolto em perfeito silêncio

e escuridão

os olhos fechados sem nada ver

os ouvidos sem nada ouvir

sem sentir o coração bater

nem me dar conta de respirar

nem do tempo fluir

 

Sem me afectar a mais leve emoção

no  presente

a mais ténue saudade

do passado

a ansiedade mais débil

do futuro

 

De memória desmemorizada

de nada

e a consciência em total ausência

de tudo

 

Com o cérebro a “cerebrar”

que não a pensar

e que tento também, em vão

parar

 

Acabo por acordar

e deixar de sonhar

 

Num sopro saio do corpo

 

Passo a tudo ver

ouvir

e sentir

 

Fico sem saber

porém

para aonde ir

nem onde é o além

 

 

 

in Anamnesis

Copyright: Henrique António Pedro

1.ª Edição: Janeiro de 2016