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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Quem nunca pecou que me atire a primeira pedra

 


Entrei no templo mais escuro e distante para me confessar

como manda a religião

 

Por meu livre alvedrio deixei os pecados mais leves à porta

e avancei na obscuridade

arrastando-me no lajedo frio como se condenado ao degredo

tal o peso que me curvava dos pecados mortais

 

Não encontrei padre algum, porém, para me ouvir em confissão

pelo que apelei ao Papa mas também ele estava ocupado a pecar

 

Apenas um santo ermita guardião postado à saída

me aspergiu com água benta e me disse

que só pecam os anjos e os cidadãos banais

os donos do mundo não pecam porque cumprem o seu mister

que é pecar

 

Aqui e agora por isso me confesso publicamente

a vós irmãos

 

E se vós me perguntais de que pecados me confesso

direi apenas que ando no mundo por ver andar os outros

os meus pecados são iguais aos vossos

tantos e tais como os demais

 

Quem nunca pecou que me atire a primeira pedra, portanto

ainda que eu não duvide que algum de vós seja santo

 

 

Vale de Salgueiro, 2 de março de 2017

Henrique António Pedro