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segunda-feira, 27 de março de 2023

À hora do despertar dos mágicos

 


À hora do despertar dos mágicos

 

A luz da Lua

coada pela neblina

não chega a ser luar

sequer

 

É tremulina a tremeluzir

nas águas do lago

que a brisa faz ondular

 

Cantamos e dançamos

nus

dementes

de mão dada

quase até de madrugada

 

Eu e minha amada

 

Qual faunos fosforescentes

por entre árvores despidas

plantadas hirtas no nevoeiro

 

Até que os mágicos despertem

à hora em que os humanos devem ir dormir

e deixar livre o terreiro da imaginação

seu privilégio

nosso sortilégio

nossa humana condição

 

É a hora de regressar a casa

cabisbaixos

resignados

calados

doridos

arrependidos

de alma em brasa

expulsos do fantástico paraíso

pelo trágico juízo mágico

 

Outro é o nosso lugar

 

Vale de Salgueiro, sábado, 23 de Janeiro de 2010

Henrique António Pedro

sexta-feira, 24 de março de 2023

A minha alma mora no meu coração

 


Não mora na minha mente

a minha alma

como demente

cheguei a pensar

 

Nem mora em nenhum órgão

glândula ou apófise

como pus a hipótese

 

A minha alma mora no meu coração

 

É lá que passa a maior parte do tempo

divertida

a deixar-se emocionar

 

De onde sai levada pelo vento

sempre que o pensamento

se põe a divagar

 

E quando encontra coisas que a fazem sofrer

ou a Razão não é capaz de compreender

uma dor

uma cruz

é ainda no meu coração

que a minha alma

se vai refugiar

 

A minha alma mora no meu coração

é de lá que sai essa luz

a que se chama Amor

 

Vale de Salgueiro, domingo, 20 de Maio de 2012

Henrique António Pedro

segunda-feira, 13 de março de 2023

Poema de bem barbear toda a face

 



POEMA DE BEM BARBEAR TODA A FACE

 

Muitos dos meus poemas

afloram frente ao espelho

quando me barbeio

 

Enquanto a vista se fixa em cada pêlo

que a lâmina vai cortar

eu no meu eu me enleio

em pensamento

nos morfemas e lexemas

em poético devaneio

 

E lamento todo aquele que se pela e depila

sem apelo nem agravo

capaz de matar e morrer

sem de poesia nada querer saber

mesmo que perca a face

por mais que disfarce

 

Há na vida milhares de poemas

e dilemas

para cortar

e recortar

ou simplesmente deixar crescer

mesmo no acto de barbear

 

Vale de Salgueiro, domingo, 30 de Outubro de 2011

Henrique António Pedro


terça-feira, 7 de março de 2023

Mulher é poema feminino

 


Mulher é poema feminino

 

Mulher é poema

feminino

 

Que só a mulher escreve

descreve

anima

declama

por palavras escritas

e faladas

 

Palavras que são verbos:

amar

beijar

sorrir

sonhar

 

E adjectivos:

linda

encantadora

sedutora

sensual

monumental

 

E substantivos:

amor

anjo

flor

alegria

sonho

fantasia

poesia

 

E orações quais:

as curvas do seu corpo

as circunvoluções do seu andar

as harmonias do seu falar

as ondulações dos seus cabelos

o brilho do seu sorriso

os apelos do seu olhar

 

Palavras que se concertam em versos

e rimam perfumados de poesia

e convidam a ler

mesmo sem nada se entender

e fazerem perder o tino

 

Mulher é poema

divino

 

Vale de Salgueiro, sábado, sexta-feira, 20 de Novembro de 2009

Henrique António Pedro