in “Angústia, Razão e Nada “ (Editora Temas Originais-Setembro 2009)
Caminho para a
morte desde que nasci
Ao som da sinfonia do dia-a-dia
Morro sempre que alguém morre
Renasço quando alguém nasce
Sinal de que não morri
Ainda
Sou um gladiador no circo do Universo
Lançado às feras das emoções
Ganha sentido este verso
Descolorido
Sem o tom indevido das ilusões
Desfalecem-me olhos e ouvidos
Avivam-se desejos e afectos
Melhor ouço o Cosmos e o Além
Prenuncio de que continuo a viver
E ainda bem
Ontem mesmo enterrei um amigo
Um irmão
Sem compreender a razão
Porque morreu
Primeiro que eu
Desta vez foi ele que ganhou
Que chegou primeiro à meta
Será que tinha a alma mais aberta?!
Amanhã irei ao baptizado
Duma criança que não sabe ainda
Que nasceu e tomou o lugar
Dalgum finado desavindo
Que partiu e não se despediu
Porque me não liberto eu
Já
Dos desejos e afectos
Das vaidades e ambições
Das malhas das religiões
Da vã glória da História?
Se é certo que caminho para a morte
E que ninguém tem melhor sorte
Que viver a vida enquanto puder
Que outro César me poderá poupar
Senão o Amor
Que me condena a amar…
E a morrer
…devagar!?
Vale de Salgueiro, 24 de Março de 2008
Henrique António Pedro