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domingo, 2 de maio de 2021

Crónicas Secretas do Afeganistão XIII Poema lamento de uma mulher afegã

 


(Imagem: Pinterest)

Crónicas Secretas do Afeganistão

XIII

Poema lamento de uma mulher afegã

 

Quem me dera poder postar os meus poemas

E dar a conhecer ao mundo

Livremente

Os meus dilemas

Fazer ouvir a minha voz

Por toda a Terra

Ainda mais alto que os terríveis acordes de guerra

 

Quem me dera poder amar e ser amada

Viver o dia-a-dia e ver o dia

Como uma repetida madrugada

Liberta de véus e de vendas

Das leis horrendas

Que me convertem em vil

E abjecto

Objecto

 

Quem me dera poder ser possuída por amor

Sem ser posse de ninguém

E de ter alguém a quem ter

Sem correr o risco de morrer

 

Quem me dera poder banhar-me no mar

Desnuda

E correr pela praias

Livre das minhas saias

 

Quem me dera poder namorar nas noites de luar

Deitada na areia

Nua como a Lua

Ser dona do meu corpo

E poder correr o risco de engravidar

Sem me sentir constrangida a abortar

 

Oh, como eu gostava de poder sonhar!

De ousar ser livre

De contestar o profano e o divino

De criar e procriar

Votar

Viajar

E ser dona do meu destino

 

Por agora sou apenas mulher

E não sou nada

Nem ninguém

 

Mas um dia serei mais que mulher

E serei tudo

E serei mãe

 

Afeganistão, Ponto GPS Cabul, 30092005

Daniel Rio Livre (Repórter de guerra fictício)

 

Apostila:

De regresso a Cabul gozo um período alargado de folga. Tive ensejo de me encontrar com Elif no complexo da base em que estou aquartelado, sem ser, portanto, no decorrer das missões arriscadas que nos são atribuídas.

Falámos de tudo e com alguma surpresa da minha parte, Elif pediu-me que verte-se para português e postasse, o poema que acima se apresenta.