Foi no meu principal papel de
criança
na tragicomédia da vida
enquanto personagem da mais pura
inocência
que revelei maior competência
e confiança
mais feliz me senti
e com maior emoção
vivi
sem saber representar
sabia apenas o que em mim
sentia
partilhar amor com alegria
Muitos foram os que por quem tão
amado fui
tantos os que a quem tanto amei
até demais talvez
agora sim
sei
Enchia o boné de flores
campestres
e de amoras silvestres
e, pé ante pé
oferecia à minha mãe
o primeiro dos meus eternos amores
Tinha por ideologia apenas viver
amar
ser amado
e por práxis correr
saltar
gritar
por campos e lameiros
dias e dias
inteiros
Sossegado?
Apenas quando soprava bolas de
sabão
e as via flutuar no ar até
estourar
ou postado na margem do lago
entre juncos e nenúfares disfarçado
sentindo bater o coração
caçava rãs e libelinhas
em silêncio
ou quando sorrateiro
pregava as minhas partidinhas
É por tudo isso que ainda hoje
em dia
me sinto uma criança grande
e me sinto bem
assim
na verdade
Uma criança grande crescida na
saudade
abençoada vida
feliz idade
Vale de Salgueiro, sexta-feira,
17 de Setembro de 2010
Henrique António Pedro
