Ergo a minha própria
pira funerária
numa planície erma e
desolada
em dia de vento gélido,
neve e geada
quando o Outono já é
quase Inverno
fujo do inferno
Amontoo folhas secas
perfumadas
esqueletos de
roseiras decepadas
ramos de oliveiras
bentas
farrapos de bandeiras
livros, sebentas e
jornais inúteis
lembranças de amores
vencidos
sucessos, insucessos
e vãs glórias
histórias de encantar
confidencias de fazer
corar
Coloco ideias loucas
a servir de rastilho
ponho-me de pé no
topo do monturo
em pose olímpica
qual estátua de Júlio
César
de calvície coroada
de folhas de louro
faço o meu próprio auto de fé
Risco um verso
De pronto fumega a
minha épica loucura
em breve surgirão as
primeiras chamas
Torturam-me imagens
das viúvas indianas imoladas
dos relaxados nas
fogueiras da Santa Inquisição
dos kamikazes
dementes do Médio Oriente e do Japão
dos bombeiros
imolados nas Torres Gémeas
das crianças degoladas
na Palestina
e abandonadas à sua sorte
maligna
Quando as labaredas
me alcançam
e ameaçam queimar-me
expludo!
É o meu espírito que
estoura como fogo de artifício
e se reintegra no
seio de Deus
De mim poeta nada
resta
porque a minha
inutilidade é total
Apenas uns versos
soltos
fumos sem fogo
com as quais o vento
se diverte
insuflando-lhes vida
aparente
Vale de Salgueiro, terça-feira,
2 de Dezembro de 2008
Henrique António Pedro
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