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quarta-feira, 3 de maio de 2023

Na Praça Martim Moniz

 



Na Praça Martim Moniz

(Do meu baú de recordações)

 

Só me não me perdi

por um triz

 

Amei-a eternamente

Mal a vi

Nos breves instantes

Em que como ela

Esperava o eléctrico

Na Praça Martim Moniz

 

Os seus olhos negros

Tolheram-me por completo a visão

E porque eram negros e brilhantes

Não me deixaram ver nada mais

 

Foi maquinalmente que para ela dirigi meus passos

E percebi que também ela aguardou

Que eu lhe dirigisse a palavra

 

Passavam inúmeros eléctricos

Que nos levavam aos sítios para onde íamos

 

Mas nenhum de nós se importou

Nem sentiu pressa em partir

 

Tolhido eu pela luz negra

Dos seus olhos negros

E pela desenvoltura da sua trança

Presa, ela, à minha expectativa

Em que residia a sua esperança

 

Amámo-nos eternamente

Naqueles breves instantes

Até que por fim

Ela decidiu partir

 

Venci-me

Não a segui

Ainda assim

 

O eléctrico que tomou

Deixava-me a mim

A meio do caminho

 

Lisboa (Martim Moniz), Outubro de 1970

Henrique António Pedro


 

2 comentários:

  1. Gosto e aposto, que ainda agora gostaria de saber, tudo que veio a acontecer, à menina dos olhos negros ! Tal qual julgo, que o mesmo acontece com ela !!! - Coisa igual não, mas parecida sim, me aconteceu a mim ! Em Luanda, conheci a menina mais linda, que meus olhos já viram ! Para lá da rede do liceu estava ela, para o lado de cá estava eu ! Pelos buracos da rede nossas mãos se tocavam e nossas caras coravam ! Vim e não voltei, a onde a deixei ! ANO 1.965. Hoje ainda sorrio ao lembrar-me do sorriso e olhar dela !!! Feliz recordação onde a mágoa é imensidão !!!

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    1. A vida tem destas coisas, amigo Joarte.Felizmente existem poetas para lançar um brilho especial sobres estas vivências banais. Abraço.

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