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sexta-feira, 23 de setembro de 2022

No Outono da vida

 


Nestes dias anormais

esgaravato raízes de poemas

no húmus humedecido

pelas primeiras chuvas outonais

 

Quando a Natureza de novo sorri

verdejante e florida

iludida

travestida de Primavera

quando o longo e frio Inverno

já a espera

 

Desenterro apenas dilemas

angústias e ansiedades

que exponho ao vento e à chuva

ao sol morno de Outono

 

Angústias sem razão de ser

dilemas de verdades

ansiedade sem casualidade

que o sol não estiola

a chuva não dilui

nem o vento as leva para longe

 

Sou apenas mais um eu que a si mesmo se imola

 

As aves passam indiferentes

em voos sorrateiros

procurando sementes nos terreiros

e não poemas dementes

 

E os cães ladram com desnorte

porque o frémito da minha melancolia

lhe fere os tímpanos

e lhes causa frenesia

 

Ponho-me então a imaginar como será viver

para lá da morte

sem mais sofrer

 

Delírio que arrasta consigo todos os meus afectos

para espaços mais amplos e abertos

e assim a minha angústia se dilui

e o meu espírito mais se abre e adensa

 

Comprovadamente já não serei o que era suposto ser

nem a minha alma mais se lamenta

 

Acabo por adormecer ao sol morno do outono da vida

na esperança de que serei muito mais do que tudo que sonhei

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 4 de Novembro de 2009

Henrique António Pedro

 

 


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