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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

A minha receita de arroz doce



Refastelo-me no sofá
da sala de estar interior
do meu ser ocioso
à espera que me chamem
para jantar

Não tarda adormeço
bebendo uma chávena de chá

O meu acordar será feliz
com os vapores do arroz doce
delicioso
acabadinho de sair da panela
a acariciarem-me o nariz
odorado de rosmaninho
e polvilhado de canela

Sinto-me uma criança
um anjo pequenino
empoado de poesia
e pozinhos de perlim pim pim
a dançar o cha-cha-cha
ao som do cristalino estralejar
de estrelinhas de fantasia

Falta acrescentar
para terminar este doce desenlace
que esta receita de arroz doce
também mete casquinha de limão
e raspas do coração

Tudo quanto baste
q.b.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Parti, de mansinho, para não a acordar




Parti
de mansinho
para não a acordar
porque percebi que sonhava comigo

Sorri
aconcheguei-lhe a roupa
beijei-a na testa
e escrevi este poema balsâmico
na sua agenda aberta
sobre a mesinha de cabeceira
mesmo à beira do despertador

Para que quando o alarme tocar
e a fizer acordar
sinta o meu amor
e não entre em pânico
por não me encontrar deitado a seu lado

Também
para lhe dizer
que por nenhuma razão
a quero perder
e que estará sempre presente no meu coração

E que enquanto eu estiver ausente
por obrigação
andarei sempre a penar de paixão
deserto de desejos dela
do seu carinho
e dos seus beijos

Por isso parti
assim devagarinho
sem a acordar
porque percebi
que sonhava comigo


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Guardo o cérebro num frasco de formol



Angustiado
tremendo de medo
extirpo o cérebro com as minhas próprias mãos
para o expor ao sol e ao vento
e guardá-lo a meu lado no frasco de formol
colocado no penedo que me serve de assento

Com a mão direita espremo a memória
com a esquerda aperto a razão
que balanço com angústia incontida
tentando determinar
qual parte da consciência pesa mais
para a alma assim dissolvida

A memória apenas regista o instante em que a perdi

Será que algum dia existi?

A razão me diz que sem memória em que se apoiar
não poderá escrever história
fazer ciência
e projectar o devir

Será que algum dia voltarei a existir?

Da memória e da razão de mim separados
são os meus sentimentos levados pelas águas do rio
para o mar da loucura colectiva
onde enlouquecem

Enterradas nas areias
ficam
mesmo assim
ideias furtivas
que não aquecem nem arrefecem

Nada sinto
nem de bem nem de mal
não choro
não rio
nem sei onde moro
se existo
ou existirei

Apenas sei que sou consciência incorpórea
sem história
nem memória

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Ser poeta, a meu ver



Ser poeta, a meu ver
não é ser maior
ou menor
que ninguém
nem ter poder sobre alguém

Ser poeta
é sentir as agruras da vida
mesmo sem as viver

É amar
é sofrer
tudo fazer com poesia
e cantar com alegria
mesmo se se canta a chorar

Ser poeta
é morar no Universo
ser mais ágil que o vento
e mais forte que o tempo

Ser poeta é ser dilema
verso de amor
anverso de dor
disperso de paixão

Ser poeta é ser fogo
ser luz
ser poema

Ser poeta é não ter outra condição


quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

A balança da verdade



Tenho para mim
que humildade e dignidade
são um manancial de humanismo
uma fonte de esperança
um mergulho na humanidade

Tomo por balança a verdade
e por fiel o meu coração

Para viver a vida com heroísmo
livre de egoísmo
de sentimento ruim
ou cega ambição

Sem que a minha dignidade
tenha o contra peso do orgulho
a minha humildade a tara da vaidade
nem outra sombra de mal

E que a minha humildade
posta no outro prato da balança
em que coloco a minha dignidade
pese por igual
que o seu peso seja o amor
e bem pesado seja o seu valor