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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Esta saudade saudosa



Hoje
dei comigo a relembrar
pessoas que conheci
e não voltei a ver
locais por onde passei
ou fugazmente vivi
e aonde não tornei

Locais da selva onde acampei
campos de batalha onde combati
praias em que me banhei
templos em que orei
ilusões que sofri

Amores a que não fugi
outros tantos que evitei
para mais não sofrer

Sonho do passado
que teima em ser sonhado
por não querer morrer

Locais de magia
repositórios de História
almas a quem me irmanei
em campanha inglória

Pessoas e lugares de fantasia
aventuras cor de rosa
que não quero esquecer
que relembro com saudade
neste poema de amizade
a florir

É uma forma de amar e de sofrer
com poesia

Uma saudade saudosa

que teima em não partir

domingo, 12 de janeiro de 2014

Porque escrevo tão belos poemas de amor?





Perguntam-me
porque escrevo eu tão belos poemas de amor

Respondo

Porque muito amo
sem que ande cegamente apaixonado

Porque nenhuma espúria paixão me perturba o coração
e me tolda a Razão

É o amor alargado
em que o meu espírito vive
alagado
que ilumina a inspiração

E confere aos meus versos
verdade
e musicalidade

Que só vê
quem como eu
ama


E lê

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Love bites





Batidelas
sonoras
do teu coração
a dizer-me o quanto me amas

Relâmpagos de luz
de teus olhos
a dizer-me o quanto me queres

Beijos
doces
de teus lábios de veludo
a dizer-me o quanto me desejas

Mordidelas
de teus dentes de marfim
a dizer-me o que só me dizes a mim

Silêncios gritantes
de paixão
que valem por mil poemas
e fonemas

São “sound bites” (*)
“ligth bites”

“Love bites”



(*) Before the actual term "sound bite" had been coined, Mark Twain described the concept as "a minimum of sound to a maximum of sense."  (Wikipédia)

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Três Poemas de Natal



Estrela
1962

Na quietude de uma noite estrelada
Fria mas linda
Apareceu uma estrela
Toda doirada

Veio do alto
Mesmo do centro
Do enorme Firmamento

Depois
Banhada pelo luar
Desceu
Desceu
Parou

E na quietude da noite estrelada
Seus raios lançou...
A um perdido
E mirrado casebre...
Toda doirada

E no casebre
Bem pequenino
Nasceu Deus
O Deus menino

                                              Vale de Salgueiro, 25 de Dezembro de 1962

Arame farpado
1971

Uma névoa de saudade
Invadiu o campo
E as luzes
Não iluminam claramente
As zonas para cá
E para lá
Do arame farpado

As árvores são sombras
Carregadas
Na própria sombra das imagens
E os cantares dolentes
Perdem-se
Na ausência de respostas
Da floresta

Ninguém percorre os trilhos
Esta noite
E aqueles que não sentem
Guardam respeito aos demais

De tudo resulta silêncio
E ruído de recordações
Que o mesmo é saudade

                                              Nangololo (Norte de Moçambique), 24 de Dezembro de 1971
In Poemas da Guerra, de Mim e de Outrem


Esperança
2007

Não conhecemos a data
Exacta
Em que Jesus nasceu em Belém
É porém menos lendário
O registo da Sua morte
No Monte Calvário

Por 2007 vezes nascerá Jesus
No imaginário humano
Quantas vezes mais morrerá
Transfigurado em Cristo
No sinistro calendário do ano?

O homem não vive ainda o Natal
Mensagem universal de Paz e Amor
A mentira, o sofrimento e a dor
Esgotam o espaço e o tempo
A notícia e o noticiário
Expande-se a tristeza da morte
Cala-se a alegria do nascimento
Glorifica-se quem mata
Por esse mundo além
Avilta-se a grandeza de ser mãe

Que Jesus continue a nascer
Hora a hora
Até Cristo deixar de o Ser
Que viva dentro de nós
E não morra mundo fora

No Natal acende-se a Luz
Do Amor, da Paz e da Esperança
Nasça Deus mais uma vez
Feito criança
Salve-se o homem Cristo
Da Cruz


Vale de Salgueiro, 26 de Novembro de 2007

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Terra queimada pela paixão



Era pura paixão
que me animava

Um incenso sagrado

Um fumo perfumado
que subia  vertical
e nenhum vento
nenhum sopro de mal
dispersava

Ardia-me o coração por dentro
pulsava como brasa incandescente
atiçada pelo sopro do amor
ardor em corpo ardente

Até que o seu coração
deixou de me espevitar
e o meu arrefeceu

Ficou então
o carvão da tristeza
a cinza da saudade

E um fumo acidulado
dissipando-se
ondulante
em resignado vai e vem
sobre a terra queimada
pela paixão


Uma terra de ninguém