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sábado, 6 de julho de 2013

A tribo dos poetas



Erram descalços
e seminus
na pré-história do futuro

Ao frio, à chuva e ao vento
por vales e montanhas
sem sossego nem assento

De luzinha na mão
seguindo o rumo do coração

A espevitar o fogo
com os poemas que acabaram de descobrir
não vá a chama do amor
se extinguir

É a tribo dos poetas
atletas do devir
que não enche estádios
não ocupa as cadeiras do poder
não comanda exércitos
nem dirige as finanças públicas
mas que um dia
tudo irá subverter
com verdade
e acabar com a guerra

Porque só o amor feito poesia
poderá impor a justiça e a harmonia
no seio da Humanidade

e salvar a Terra

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Só não sofrem as fragas




Sofrer sofrem plantas e animais
fome
sede
frio
e desumanidade

Sofrer sofrem os humanos
a falta de humanidade

Só sofremos
se somos nós a sofrer
mas sofremos ainda mais
se sofremos com os demais

Sofrimento sôfrego
sufragado
sofre o poeta amoroso
amargurado
de amor contrariado
a sua maior desgraça

Só não sofrem as fragas
mesmo se o deflagrar fragoroso
as desfigura

e estilhaça

terça-feira, 2 de julho de 2013

Alvorada




Quando o Sol raiar
então sim
vamos poder amar-nos
à luz do dia
envoltos em lençóis de poesia

Já se rasga o dia
no crepúsculo da aurora
já o galo canta a alvorada
em estridente melodia

Em mim
relincham
mil corcéis de alegria

Já diviso
a figura feminina
etérea
vaporosa
que me sorri
deitada em nuvens cor-de-rosa

É a minha amada que acorda
por fim

feliz porque não parti

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A poesia é uma árvore




A poesia é uma árvore
com tronco de emoção
e copa de fantasia
envolvida em véu
de louvor
à vida

De raízes mergulhadas bem fundo
no húmus do coração
de onde suga a seiva
dos sentimentos soberanos
com que alimenta folhas
e ramos
e frutifica
em poemas
na Razão

Respira o ar da Terra
e recebe a bênção do Céu
sob a forma de inspiração

Iluminada pelos raios cósmicos do Universo
viceja em verso
e é poiso de aves
que vêm ler
e declamar
os poemas
trazendo e levando penas
que a vida

é um permanente depenar
até morrer

sábado, 29 de junho de 2013

No clímax do sonho



Com o sono e o sonho
no clímax
do enlevo
e da lascívia
como se vivesse a vida sonhada
e a felicidade estivesse acordada

Quando me apetecia tudo menos acordar
eis que toca o despertador
e a realidade desperta
para a felicidade adormecida.
Ó que estranha troca!

Abro a janela
aspiro ao ar fresco da manhã
a Natureza no seu esplendor
é outra fantasia

Será que de novo sonho?

Desperto no melhor da realidade
acordo no melhor do sonho
não durmo
nem discuto o dilema
simplesmente
vivo

Inalo uma pitada de poesia

e lavro este poema

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Bendita sois Vós entre as mulheres



Pressinto que algo
dentro de mim
pulsante
me chama

Desperto!

Abro a janela de par em par
o Cosmos inunda o aposento
de rompante

Um vento
de luz
sopra seus raios rosa
desde o Sol nascente

É a alvorada a entrar
luminosa
por mim a dentro

Ouço os primeiros acordes
da Avé Maria de Bach e Gounod
que me envolvem em explosão de alegria
e glória

No fundo suave dos violinos
percebo o ondulado das colinas verdejantes
salpicadas de papoilas e marmequeres
a energia telúrica que emana da Terra
força de paz que silencia a guerra

Nos sons metálicos do piano
o tilintar das estrelas a cintilar

Já o meu corpo se quebranta
e começa a voar

E quando a divina voz da diva se alteia
na simplicidade do amor e da verdade
da galileia Maria, de Nazaré
dou-me conta que a minha alma se liberta
dos humanos misteres
e dos constrangimentos da fé

Já não mora mais ali
pois se evola
em êxtase
de espiritualidade
e poesia

Avé Maria
bendita sois Vós

entre as mulheres 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A mulher gorda



Um som inaudível
uma estranhíssima indução
uma qualquer inconsciente associação
terá motivado tal opção

Não sei

Quando hoje pela manhã
me preparava para me barbear
desatei a assobiar
o refrão
de uma música em voga
e não tardei a trautear o estribilho

«Mulher gorda,
ai a mim não me convém,
………………….
Ai, Ai, Ai, Ai,
eu gosto dessa mulher»

E quando dei por mim
já gritava a plenos pulmões
enquanto a lâmina deslizava
na face ensaboada

«Mulher gorda,
ai a mim não me convém
………………….
Ai, Ai, Ai, Ai,
eu gosto dessa mulher»

E repetia com mais ardor

Quantas pessoas na vizinhança
terão pensado que enlouqueci
eem esperança de cura?
Quantas mulheres gordas sentiram ganas
de me esganar?

Não sei!


A barba ficou um primor

terça-feira, 25 de junho de 2013

A mulher é mais mulher



Poderá a mulher que nos encanta
ser santa
cientista
poetisa
actriz
feliz
infeliz
artista
heroína
governante
amante
capitalista
proletária
revolucionária
ou o que calha

Poderá a mulher, seja ela qual for
ser um amor
e amar alguém
rir ou chorar
ou mesmo nem amar ninguém

Mas a mulher é mais mulher
quando
porém
ama o homem

e é mãe

domingo, 23 de junho de 2013

A mal amada




Sempre que ela
comigo
e eu com ela
me cruzava

A silenciosa sedução da sua formosura
a sua feminina graciosidade
eram promessas de inexcedível amante
de arrepiar

Inicialmente
parecia ser por acaso
que nos encontrávamos
mas passaria a ser de propósito
quando uma molécula do seu perfume me tocou
e um raio de luz de piedade do meu olhar
a penetrou

Porque percebi um pedido de socorro
silencioso
angustiado
na tristeza fascinante
do seu olhar de mulher sofrida
mal amada
embora tudo tivesse de sobra
para ser idolatrada

Mas também era uma mulher apaixonada
amarrada à ideia de lealdade
embora fosse repudiada

Acabámos a dar e a soltar
as mãos
a falar com verdade
como se fôramos irmãos

Passou a ser mais apreciada
e prosseguiu apaixonada

Restou uma eterna
doce

e cúmplice amizade

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Porque cintilam as estrelas?



Porque cintilam as estrelas?

 

Quando a minha deslumbrada

lembrança de criança

se inicia…

 

Ainda a minha família ceava à luz da candeia

e tudo que nos alimentava

era meu pai que o colhia

 

Pão, vinho, mel, azeite e leite

tudo era dádiva de Deus

pelas mãos de meu pai

aceite

 

Também na penumbra mística da igreja lá da aldeia

uma lamparina ardia

quer de noite quer de dia

 

E seria essa luzinha bruxuleante

pequenina

a lançar a primeira grande interrogação

na minha rutilante

Razão

 

Porque ardia e tremeluzia ela

como se fosse uma estrela

à luz do dia?

 

Foi minha mãe que me explicou

e com tanto amor o fez

que ainda hoje aceito a explicação

certo de que assim é

com verdadeiro fervor

e acendrada chama de fé

 

Disse-me ela

numa encantada noite de Verão

estreitando-me contra o seu coração

que as luzinhas que brilham no céu são a luz de estrelas

que há muito tempo se apagaram

mas que só agora chega até nós

trazida pelo vento divino

 

Assim como um grande amor que se foi, mas continua a brilhar

noite e dia

sem nunca se apagar

 

Assim é esse o nosso destino!

 

 (Amor já eu sabia o que era porque muito a amava a ela)

 

Por isso também em minha casa luzia

noite e dia

com deleite

como na igreja da freguesia

uma lampadazinha de azeite

 

Por todos que amávamos

mortos ou vivos

porque acreditávamos que a luz do nosso amor

como a da lamparina

e a da estrela mais pequenina

continuaria a piscar Universo fora

mesmo depois de na Terra se apagar

 

E que será guiados por essa luz

que um dia nos voltaremos a encontrar

agora já sem que o nosso amor

jamais se possa apagar

 

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 3 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

in Introdução à Eternidade 

Copyright © Henrique Pedro (prosaYpoesia) 

1.ª Edição, Outubro de 2013 

 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Espiritualidade rima com eternidade



Espiritualidade
rima
com eternidade

A minha
está-me na massa do sangue
é eflúvio de amor
o que de mais humano existe

Mamei-a no seio de minha mãe
bebo-a na água da fonte
aspiro-a no ar das montanhas
vejo-a espelhada
além
no horizonte

O luar a pinta
na minha pele

A luz cintilante
da estrela que brilha
distante
grava-a na minha mente

Desperta-a
a angústia que dentro de mim
ferve
reluzente

Por isso a minha poesia
é sol e sombra
da minha alegria


quarta-feira, 19 de junho de 2013

Acordem os poetas



O dia já é tarde
já o crepúsculo da noite envolve a Humanidade

Já o sol da Verdade se pôs
por detrás das montanhas da mentira

Por sobre toda a Terra
pairam o sofrimento e a morte

Já o ribombar das explosões
o fragor dos escândalos
os ecos da falsidade
toam mais alto que as vozes da Razão
e calam os acordes de Amor
os pedidos de perdão

Já a Paz se afunda
no mar da ambição e da guerra
já Por sobre toda a Terra
imperam o vício e a miséria

Já o ar
a água
a luz natural
se aproximam da exaustão

Os homens já só carregam ilusões
e violência
dentro de si
sem saberem o que é paz interior
e a justiça já não mora nos seus corações

Já a Civilização se esgota no luxo
no fausto e libertinagem
de alguns
indiferentes à penúria e à miséria
de milhões

Triunfam os perversos
vampiros alados feitos anjos
que dominam todas a técnicas
todas as formas de poder
sugam tudo que o planeta tem
o sangue e o tutano da Humanidade
exangue

Exultam os corruptos
é a hora de despertar os justos

Acordem os poetas!

terça-feira, 18 de junho de 2013

Introdução ao amor digital



Há agora um novo modo de amar
de fazer amor à distância
de forma interactiva
e iterativa
sem contacto corporal
em formato digital
virtualmente virtual

Uma nova técnica de amar
em que os dedos da mão
são usados para teclar
e mover o rato
não para afagar os cabelos
tactear o corpo
ou sentir o bater do coração

Muito menos para titilar o clítoris
ou os lábios
como na forma de fazer amor convencional
analógica
animal

É amor cibernético
electrónico
“Webico”
“Internético”
que nos põe a voar por sobre os oceanos
planeta fora
cosmos além

Numa fantasia surreal
sem mal ou bem
que excita o corpo e o espírito
de forma informal

Mais facilmente os amantes se desnudam
à frente do monitor
se aproximam ou afastam ainda mais
sem condição
rompem as regras sociais
cometem a traição
virtualmente
sem causar dor

Mas…
Que poderá dar este amor
sem constrição
para que seja um amar de verdade?

…Tudo o que cada um tiver
para dar
em seu coração.

Vale de Salgueiro, 3 de Dezembro de 2007

Henrique António Pedro

domingo, 16 de junho de 2013

A Poesia é a coisa mais reles que existe




Não dorme
não come
não descansa
dança noite e dia
passa de mão em mão
num permanente afobo
vai para a cama com toda a gente
e anda na boca do povo

Então agora com esta coisa de Internet
é um desaforo
é demais

A coisa mais reles que existe
é a poesia

A toda a hora ela aí está
a saltar de continente
para cá e para lá
entre portugueses e brasileiros
e outros forasteiros
tudo gente demente

Tenham dó!

São milhares que se envolvem
com as poesias
e se entregam a confidências
dislates
disparates
até a traições matrimoniais, vejam só!
E a outras tantas fantasias

É demais!
A coisa mais reles que existe
é a poesia

Se a poesia fosse mulher

eu casava com ela

sábado, 15 de junho de 2013

É o fim do mundo



Dizem que o fim do mundo
está para breve
e que irá começar
lá pelo Oriente
onde a gente
é mais impenitente
e vive apenas para trabalhar

Nós por cá
pelas terras do Ocaso
teremos, assim, um certo tempo
adicional
para nosso bem ou nosso mal
nesse ínterim

O fim do mundo chegará aqui
om um certo atraso

Previamente alertados
teremos tempo para reflectir
e decidir
se nos pomos ou não a fugir
e para onde

O tempo suficiente
para evitarmos o pior
e muita gente se salvar

Será o fim do mundo
não o fim da gente

Aqui deixo este ilógico
aviso escatológico
que só deverá ser tido em conta

em caso de aflição maior

sexta-feira, 14 de junho de 2013

A irrelevância de Deus



Existir ou não existir
Deus
ser ou não ser
sob que condição for
não é a questão maior

No meu humilde entender
será irrelevante
até
porque Deus poderá dar-Se ao luxo
de nem ser
sequer

Tanto que deixa ao livre arbítrio
de cada um
Nele acreditar
ou não

Não deixa porém
de nos apontar o caminho
para que sejamos nós a reconstruir
o nosso próprio destino

Dá-nos a matéria para tanto
que é o Amor

O método
que é o Bem

E o cadinho também
que é a Dor

Este é
o tripé

de toda a Fé

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Rio Atlântico



Outrora foi um mar
o oceano Atlântico

Que as caravelas ousaram devassar
para pescar
saudade

Agora é um rio
de fantasia

Em cujas margens há poetas a pescar
poesia
e a acenar
Amizade

Um rio florido
de letras
rosas e violetas
de poemas
de todo o ano

Agora é um cântico
um oceano
um mar
o rio Atlântico

Que os poetas a toda a hora
ousam atravessar

tão só para se abraçar