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quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Joaninha voa voa leva as cartas a Lisboa

 


Joaninha voa voa leva as cartas a Lisboa


A banda a cavalo ensaia o hino nacional

a guarda de honra marca passo

faz que anda mas não anda

drapeja a bandeira

no mastro da asneira

estrelejam foguetes de estalo

 no céu

 

Políticos corruptos

discursam astutos

feitos ursos

sem véu

 

Poetas imundos

recitam poemas abstractos

profundos

dançam a sarabanda

por esmola

comem pão com cebola

 

Joaninha voa voa leva as cartas a Lisboa

se voares bem dão-te um vintém

se voares mal dão-te um real

 

Que aconteceu afinal?!

 

Nada

 

Mas gostou?!

 

Nem sei

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 23 de Dezembro de 2009

Henrique António Pedro


sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Felizes são aqueles…

 


Felizes são aqueles…


Neste tempo de crise

Que a todos aflige

Uma chama de esperança

De bom senso e temperança

Que a todos transcende

Se acende

 

Felizes são aqueles…

que que têm luz suficiente para ver

Não tanta para se deslumbrar

 

Calor suficiente para se aquecer

Sem se queimar

 

O som certo para bem ouvir

Sem ensurdecer

 

Pão e água quanto baste para se saciar

Não em demasia para se não empanturrar

Ou afogar

 

Talvez um pouco mais para que possam dar de comer

e de beber

a quem por nada ter

nada come

e de sede poderá morrer

 

Paixão suficiente para viver

gozar de são prazer

e alegrar o coração

sem perturbar a razão

 

Justas alegrias para se animar

sem a ninguém humilhar

 

E Amor

Amor sem medida

para que sem contrapartida

amor possam partilhar

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2009

Henrique António Pedro

 

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Qual a maior dor?

 


Qual a maior dor?

Das dores interiores

Qual a maior dor?

 

Todas as dores interiores

Doem por igual

Porque todas as dores interiores

São dores

De amor

 

E todas as dores de amor

São interiores

 

Sejam de perda

De partida

De derrota

De desilusão

De paixão

De pai

De mãe

De amigo

De irmão

De saudade aberta

Sempre se sentem no coração

E melhor as sente o poeta

 

E só a poesia

As transforma

Numa triste alegria

 

Vale de Salgueiro, domingo, 17 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro


 

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Eu não sou nada nem sou ninguém

 


Eu não sou nada nem sou ninguém

Eu

Não sou nada

Nem sou ninguém

 

Não ser nada

Nem ser ninguém

Não quer dizer que nada seja

Que seja nada

Porém

 

Eu

Não sou nada

Nem sou ninguém

Ando no mundo por ver

 Os outros andar

 

Se os outros deixarem de me ver

Não quer dizer

Que eu deixe

De andar

 

Eu não sou nada

Nem sou ninguém

Ando no mundo por sentir

 Que os outros me sentem

 

Se os outros não me sentirem

Eu não deixo de os notar

 

Eu não sou nada

Nem sou ninguém

Ando no mundo porque penso

Nos outros a pensar

 

Se os outros não pensarem

Eu não deixo de pensar

 

Eu

Não sou nada

Nem sou ninguém

Não sou outro

Sou eu

 

Sou

Simplesmente

Alguém

 

Vale de Salgueiro, 5 de Setembro de 2022

Henrique António Pedro

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Alzheimer

 




Alzheimer

Amanhã…

vou fazer tudo ao contrário

andar de trás para a frente

virar os retratos de pernas para o ar

 

Vou tocar os sinos no campanário

pôr a boca no trombone

desligar o telefone

 

Vou sorrir a quem nunca me sorriu

deitar a língua de fora ao Papa

mostrar o rabo à Rainha

chamar demente ao Presidente

alegrar os funerais com bandas marciais

e mandar a crise para a puta que a pariu

 

Vou chamar os poetas de patetas

deixar de escrever poesia

por de lado a gramática

e viciar os cálculos de matemática

 

Amanhã…

vou voltar à infância

comportar-me como criança

correr

saltar

viver a vida com alegria

usar peruca

deixar crescer barba e bigode

 

Amanhã…

vou fazer tudo ao contrário

 

Dizem que é a melhor forma de me precaver

pelo menos até morrer

… do Alzheimer

 

Vale de Salgueiro, sábado, 15 de Maio de 2010

Henrique António Pedro