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segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Toda a gente lê poesia, lá na minha freguesia




Toda a gente me conhece
e me merece
lá na minha aldeia

Tenho até a ideia
de que todos lêem a minha poesia
lá na minha freguesia
que canta o arrebol e o pôr-do-sol
as estrelas e o firmamento
os encantos da Primavera
a chuva, a neve e o vento
quimera da atmosfera

Mesmo antes de eu a escrever
já todos a ousaram ler

Digam lá se não sou um poeta notável!

Pudera!

Quando se mora numa aldeia assim adorável
é poeta qualquer um 
mesmo sem que tenha escrito
poema algum

É por isso que toda a gente me conhece
e me cumprimenta
lá na minha aldeia
e se enternece com a poesia
que é de todos
não é só de mim

Todos somos poetas de verdade
lá na minha aldeia
porque a sua vida é uma epopeia
e sabemos que coisas são saudade
tristeza e alegria

E porque muitos de lá saíram
para o Brasil e outras terras mil
por esse mundo além
levando no coração aldeão
a poesia da nossaTerra Mãe

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 20 de Fevereiro de 2012
Henrique Pedro

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Adeus às armas



Noite tropical igual a tantas noites santas
nada se sente de mal

Há estrelas no céu esmeralda a brilhar
uma brisa perfumada a soprar poesia
nostalgia e desejo
muito muito desejo de muito amar

Eis que de repente
quando nada o fazia esperar
da floresta salta a serpente

Ilumina-se a noite de clarões e explosões
ouve-se o silvo das balas a voar
não tarda gritos e gemidos de homens aflitos
a morrer
ali mesmo a meu lado
sem que ninguém lhes possa valer

Também disparo
calado
revoltado
em lágrimas banhado

Eis que de repente
quando não era de esperar
o silêncio volta a reinar
a poesia à minha mente

Tiro a mão do gatilho
iluminado de um novo brilho
regressam ao mato os miasmas da guerra

Uma explosão maior de alegria em meu coração
me diz que a guerra é fugaz
apenas a eterna espera da paz

Digo adeus às armas


Terras do régulo Capoca (Norte de Moçambique), Setembro de 1973
(Poema reconstituído, de memória, em 21/10/2010)

sábado, 12 de janeiro de 2019

Vá para aonde vá ou for




Vá para aonde vá
ou for
carrego sempre comigo
uma mala de fantasia
cheia de sonhos
e de amor

Sempre foi assim
e sempre assim será

Sonhos
são sementes de poesia
que germinam em poemas
em cânticos de louvor
gritos de alegria
choros de dor
ao sabor da sorte
arpejos de dilemas

Assim será
até na hora da morte
já que estou em crer
e disso tenho fé
que continuarei a sonhar
a amar
e a escrever poesia
mesmo depois de morrer

Vá para aonde vá
ou for
carrego sempre comigo
uma mala de sonhos
e de amor 
preparado para amar

É dentro dessa mala
que me faço transportar


Vale de Salgueiro, quinta-feira, 3 de Junho de 2010
Henrique Pedro

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Cada poema que escrevo é um cigarro que acendo





Não fumo nem nunca fumei
não compreendo por isso esta imagem triste em que me inspirei

Cada poema que escrevo é um fósforo que risco
na obscuridade

Ouço-lhe o ruído breve
característico da ignição
esforço-me por proteger a chama pequenina da verdade
com a concha da mão
o tempo suficiente para acender um cigarro
de amor e martírio no meu coração

A sonhar que arde
aquece
ilumina
anima
e não mais se esquece

Se ata 
se ateia a outra e a outra candeia
em cadeia

Que é uma fogueira de ideia
de poesia
que ilumina a Terra inteira

Oh, Deus!
Cada poema que escrevo
é mais que um fósforo que risco
para acender um cigarro
a que me amarro
para deixar arder
e esquecer

É uma chama de amor que arde
sem se ver

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 27 de Outubro de 2010
Henrique Pedro

domingo, 9 de dezembro de 2018

Criar do Nada






Criar
é dar o ser a algo
ou a alguém

Criar do nada
não é poder de ninguém

Que criou, o homem, até hoje, do nada?

Nada!
De palpável, nada!

Nada que se veja, se palpe ou se ouça
Nem mesmo o pulsar silencioso do coração quando ama

Porque para se ver é preciso algo que reflicta luz

Para se ouvir é necessária alguma coisa que soe

Para se tactear é preciso algo que toque a pele

Para se dar vida é preciso algo que já vive

Para se acender uma fogueira é necessário algo que já arda

Nem mesmo um simples poema que seja sai do nada mesmo se o coração do poeta está vazio

O próprio nada matemático foi criado dos números inventados

O próprio amor não sai do nada
é fruto de matéria interior

Criar do nada é privilégio do Criador


Vale de Salgueiro, 09 de Dezembro de 2018
Henrique Pedro



quarta-feira, 5 de dezembro de 2018



Há momentos
quando cumpria a rotina nocturna
de me ajoelhar no centro da abóbada celeste
para rezar e reflectir
de olhos postos no Céu

Aconteceu tudo se transformar numa imensa dúvida
que implodiu a minha Razão
a fez colapsar
e me esmagou

Apenas me via e sentia
como o ser mais insignificante do Cosmos
sem ter explicação para nada

Mas o meu coração transbordava de algo maior que o Universo
que me fez levantar
e continuar a olhar a noite
ainda angustiado
mas de pé

Algo que apenas sei traduzir por duas letras

Fé!

Vale de Salgueiro, terça-feira, 2 de Setembro de 2008
Henrique Pedro