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terça-feira, 19 de abril de 2016

Doze badaladas premonitórias





O relógio da sala de janta bateu doze badaladas
premonitórias
de desilusão

Tocou as notas introdutórias
com poesia
e depois doze badaladas sonoras
espaçadas
metálicas
marteladas
sem melodia

Amanhã por esta hora
serão de novo horas de me deitar
ainda que sem dormir

Quando ouvir o relógio analógico badalar
em contraposição à insana inovação
que põe milhares de relógios digitais a piscar
obrigando a Humanidade a correr
apressada

Dessincronizada com o Cosmos
com a imaginação
limitada
a cortar a respiração

Preferiria antes ouvir
relógios analógicos a badalar
crocitar
cucar
e porque não
balir

Como quando o galo
madrugador
com seu estridente estertor
anunciava a alvorada

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Pétalas de esquecimento




Já não é mais a flor amorosa
viçosa
perfumada

A rosa inflamada
pelo desejo despótico
que germinava
no húmus erótico
do seu corpo juvenil

Já nem ela
sorri
só de se lembrar

É agora uma rosa estiolada
que seguro pelo pé
já sem fé
com cuidado
contudo

Não com medo de ser picado
mas porque sei
que o mais delicado
movimento
o mais suave sopro de vento
a fará
despetalar

Foi o sopro
o cicio do tempo
perdido o cio
que colocou no vazio
do meu coração
as pétalas do esquecimento

Inexoravelmente

Já as pétalas lhe caem aos pés

Já nem eu sou
o que fui

É cruel
mas é

Até sempre

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Uma janela aberta a deixar o sol entrar


 

A Primavera é um capricho
da verdade

Uma vertigem
um vagado
um delíquio de beleza
da Natureza

Uma erupção de sensualidade

Um sopro de pós
de pólenes
de poemas
de gotas de esperma
e de pétalas virginais

Um borrifo de perfumes naturais
de odores corporais
de suores
de aromas
de hormonas
de feromonas

Um chorrilho de espirros
e notas musicais

Uma rapsódia de sorrisos
de chilreios
alergias
e fantasias

A Primavera é uma janela aberta
a deixar o Sol entrar

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Deus acaba de abandonar a Terra


 
 


Cantavam como que um cântico novo diante do trono, diante dos quatro Animais e dos Anciãos. Ninguém podia aprender este cântico, a não ser aqueles cento e quarenta e quatro mil que foram resgatados da terra.
(Apocalipse 14,3)
Deus acaba de abandonar a Terra

A notícia está a ser veiculada pelos órgãos de comunicação social:
«Deus acaba de abandonar a Terra
goradas todas as tentativas de concertação»

Banido pelas forças do mal do seio da Humanidade
que armadilharam o planeta com arsenais nucleares
e  de permeio controlam todo o sistema vital
condenando o ar e a água à exaustão 
e as plantas, os animais e os mares à morte
melhor sorte não se espera de verdade

Todos os centros de poder planetário
foram tomados de assalto por criminosos
políticos odiosos sem moral ou religião
que sacrificam a Humanidade no doloroso calvário
da fome, da guerra, do vício e da corrupção 
e agora ameaçam explodir a Terra 

Espera-se o resgate dos justos a todo o momento

Apenas se aguarda que o Criador
designe os cento e quarenta e quatro mil
 que merecem o Seu gentil louvor
e determine o planeta de acolhimento

Vale de Salgueiro, sábado, 21 de Março de 2009
Henrique António Pedro


quinta-feira, 7 de abril de 2016

A minha alma é caos e cosmos


 


A minha alma é caos e cosmos

O mundo em que tudo existe
acontece
persiste
e desaparece

O lugar onde amor
e dor
coexistem

É o espaço em que giram todas as galáxias
e universos conhecidos
e os que estão ainda por descobrir

Onde as estrelas brilham
os ventos sopram
troam trovões
e palavras
se concertam em versos
e poemas

É o mundo em que batem corações
e se levantam questões
e dilemas

Sobretudo aqueles que ninguém entende
ou não têm resposta
nem dentro dela
nem fora de mim

A minha alma é caos e cosmos

O hiperespaço em que aconteço
e me mereço
sem saber que pensar
que dizer
o que fazer
a não ser
caminhar pé ante pé

É o templo
sem tempo
onde se acende
a chama da minha fé
e Deus
se transcende

sábado, 2 de abril de 2016

A ti quero amar-te de forma diferente




A ti quero amar-te de forma diferente

A ti

quero amar-te de forma diferente

da que ama toda a gente

 

Quero ter-te com ideias e poemas

sem suor e sem dor

sem palavras obscenas

 

Amar-te de verdade

com suavidade

alegria

e poesia

 

Excitar-te com mil beijos

mil mimos

mil doces súplicas

provocar-te os mais puros desejos

 

Deixar que teus lábios se abram em verso

e que ao tocar os meus soltem faíscas

que electrizem toda a pele

e incendeiem o coração

 

Esperar que o brilho dos teus olhos

acenda nos meus

a luz que ilumina

o Universo

 

Porque

se é o espírito que ama

a alma que sente

e a mente que tem prazer

então a paixão é o escopro

que cinzela no corpo

traços de Redenção

 

Vale de Salgueiro, domingo, 31 de Janeiro de 2010

Henrique António Pedro


terça-feira, 15 de março de 2016

ANAMNESIS




O mor desejo de um poeta é que a sua poesia seja lida.

Este espaço em que edito virtualmente os meus poemas está prestes a alcançar as 500 000 mil visitas o que é, para mim, motivo de grande alegria, pelo que lhe fico eternamente grato pela sua visita.

Anamnesis é a minha nova obra poética.

São 70 poemas em 175 páginas, com 7 ilustrações, produto de uma inspirada recoleção de memórias.

Anamnesis, na filosofia platónica, é a lembrança de acontecimentos de uma outra existência. Neste caso trata-se de uma radiografia poética de tempos e lugares em que fui feliz sem o saber.

Tempos, lugares e afectos que moldaram a minha personalidade e me provocam agora esta profunda saudade que é amor transfigurado em poesia.

Preço de Anamnesis -15,00 € (portes incluídos)

Pedido para: hacpedro@hotmail.com.


domingo, 21 de fevereiro de 2016

Tacteando a eternidade na obscuridade


 

Momento de abulia
triste
de desencanto
solidão e resignação

Massajo o meu próprio crânio
comprimo-o
arranho-o
quase me dá vontade de o esmagar
para assim me soltar
mas mais me entranho

E sinto uma agradável sensação
entre mim e mim
entre cada dedo de cada mão e o crânio
que retém a Razão

As ideias fluem
e refluem
pelos cabelos
para os dedos
e a espaços
pelos braços
retornam à mente

Percebo de repente
que a mim me acaricio
e me delicio
a afagar o meu ego
e a pensar

E assim me tomo
de uma doce e leve sensação
de serena calma

Dou-me conta que apalpo a alma
e tacteio a Eternidade
na obscuridade

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Um raio de luz


 
 

Espraia-se o meu espírito por toda a dimensão do Cosmos
fica o corpo confinado
à Terra

A cabeça
o tronco
os membros
os olhos
os ouvidos
e demais sentidos
entrego-os à Natureza

Deixo que percorram os caminhos que lhes aprouver
sintonizados com a energia telúrica que os anima
faça sol
chuva
ou neve

Por instantes
sou eu
um ser imanente
mais etéreo que o vento

Um raio de luz
ausente
do espaço-tempo

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Lanço esta mensagem ao vento


 


Lanço esta mensagem ao vento
em forma de poético pensamento
apanhe-a a quem aprouver

Talvez uma ave a voar
leve no seu bico delicado
este poema chilreio
transformando o meu recado
em gorjeio de amor

Talvez uma criança sofrida
apanhe os meus versos do chão
como se fora uma flor
e logo apareça um anjo de amor
para a proteger e lhe dar guarida
para lhe estender sua mão

Talvez o próprio vento
agarre o dilema do poema
se transforme em furacão
varra continentes e oceanos
proclamando a Justiça e a Razão

Talvez um bando de aves de verdade
emplumadas com meus poemas
façam ninho nos jardins e beirais
dos boçais donos da Terra
e se acabe com a fome e a guerra

Lanço esta mensagem ao vento
em forma de poético pensamento
apanhe-a a quem aprouver

Sentir-me-ei mais feliz e inspirado
se o mensageiro for bem tratado
 
E me trouxer de volta como me apraz
um abraço entusiasmado
um sorriso alegre de criança
um reflexo de amor e esperança
um projecto universal de Paz

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O amor é doce e inebria




Vivo num mundo secreto
um universo aberto
e sonho
um sonho de verdade

Onde o amor é doce
e inebria
e a paixão não impõe condição

Mundo de amor e poesia
onde o espaço se finda no infinito
e o tempo se esgota na eternidade

Mundo que é um templo de utopia
em que a fantasia
roça a realidade
e não tem sentido adormecer

Por isso me ponho a pensar:
se amar é sonhar
para quê
então
acordar
se acordar
for morrer?

sábado, 9 de janeiro de 2016

Amor, simplesmente amor.









Amo
as árvores que planto
oliveiras, tílias e pinhos
que com enlevo vejo crescer
os animais que me cercam
cães
aves
répteis
que fazem parte do meu viver

Amo, simplesmente
como se de seres vivos se tratasse
as pedras em que me sento
e as que com as próprias mãos
alinho em muros
que bordejam o caminho
de encontro ao vento

Amo, simplesmente
os poemas que escrevo
com enlevo
e amo quem os ler

Amo, simplesmente
a mulher por quem me apaixonei
e os filhos que criei

Amo, simplesmente
a verdade
a poesia
a alegria

Amo
a Humanidade

Amor, simplesmente amor.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Saudade é amor e solidão




Quereria ficar ela
eternamente sentados
na fraga debruçada sobre o lago
em que costumávamos namorar
em silêncio
abraçados
ao luar

Nas encantadas noites de Verão
quando o nosso lema era
apenas:
«Amor e solidão»

Ficávamos de amor abraçados
sós
e em silêncio
abandonados
em toda a amplidão do Universo
que em verso
se abria em nosso coração

Agora que estamos afastados
de amor apartados
continuamos sós
em toda a dimensão do Cosmos
que se fechou em nosso coração

Mas eu continuo a querer ficar com ela
eternamente sentados
na fraga debruçada sobre o lago
em que costumávamos namorar
abraçados
em silêncio
ao luar

Por isso escrevi esta poesia sem alegria
que é um estátua viva de saudade
esculpida na própria fraga
debruçada sobre o lago
em que costumávamos namorar
abraçados
em silêncio
ao luar

Estátua que ali vai ficar erguida
a gritar
para a eternidade
esta dor
sem remissão:

“Saudade é amor e solidão”

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Do Amor e de Deus





Por qualquer inaudita razão
que não é assim tão evidente como eu pensava
as palavras mais frequentes nos meus poemas
são Amor e Deus

Dir-se-á que sou um homem de fé

Não
não sou um iluminado
nem tenho assim tanta fé

Sou antes um homem de dúvidas
de dilemas
sem dívidas para ninguém
mas que tem um pouco de esperança

E só tenho esperança
porque vivo na incerteza
sinto as minhas dores
e as dos outros
sou dado a amores
e vivo angustiado

Por isso rezo
e me reveso
em religiosidade
embora não saiba onde mora a verdade

Amor e Deus
são a mesma coisa

Deus mora no meu coração

O Amor é a Sua emanação

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Este poema é para si




É com alegria

que lhe dou a ler

esta banal poesia

que escrevi

a pensar em si

 

Você é um ser único

sem igual

 

Vive aqui a meu lado

e faz-me companhia

neste mundo encantado

de sonho e fantasia

no qual

só o amor é real

 

Em si me vejo

e revejo

porque lê o que escrevo

embora eu não saiba se sente o que eu sinto

e se pensa o que eu penso

ainda que sinta e pense bem

 

Por isso lhe sorrio

e lhe envio também

este abraço

sem embaraço

e lhe expresso amizade

de verdade

 

Obrigado

portanto

por comungar

e partilhar

este meu encanto

 

Vale de Salgueiro, domingo, 25 de Julho de 2010

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Amar mais e mais e mais




Os meus olhos não vêem além do horizonte
e os meus ouvidos
não escutam mais que os sons e os ruídos próximos
fugidios

As minhas mãos não tacteiam mais que a pele de corpos
e a superfície dos objectos

O meu coração apaixona-se sem sabe porquê
e o meu cérebro mais não suporta que uns quantos raciocínios

A minha alma angustia-se e mergulha em ansiedade
porque não sou livre
e estou limitado
encarcerado
dentro de mim

A olhar o mundo e o cosmos
por uma estreita fresta
por onde mal passa a luz do dia

Por isso o meu espírito se incendei em poesia
e anseia por ver mais
tactear mais
ouvir mais

E amar mais
e mais
e mais

sábado, 28 de novembro de 2015

Ando a ler o livro da vida






Poeta
ando a ler o livro da vida
de alma aberta
e a fazer anotações nas margens
com poesia

Os meus poemas são meras observações
são exclamações de espanto
de amor
e de dor
também de encanto
e de alegria

São dúvidas
interrogações
hinos de louvor ao Criador
são fantasia
desejo de não morrer

Os meus poemas são miragens
miscelâneas interiores
de amores, cores, sons e sentir
imagens instantâneas
daquilo que dia a dia
me é dado perceber

São o antecipar do devir
a marca do meu ser