Dedicado aos meus cães
seus pais e suas mães
solto um triplo latido
sentido
em verso prosaico
disperso
onomatopaico
Auuuuu… auuuuu… auuuuu!
Talvez preferissem que esta poesia
tivesse forma e substância de osso
mas não duvido
que quando pressuroso
lhes assobiar este poema
com jactância
me ouvirão com atenção
orelhas espetadas
abanando o rabo
sentados no chão
E também eles latirão
com alegria
quando eu terminar
Auuuuu… auuuuu… auuuuu!
Muito tenho aprendido eu
com o meu irmão
cão
Encanta-me a sua afectividade
a sua lealdade
a sua disponibilidade
a sua ternura
a sua bravura
e a sua liberdade
Oh, como eu gostava de ser como eles
forte e livre!
Poder correr
sem tino
atrás das aves
e sem me perder
como quando menino
Dormir ao relento sem me constipar
poder fazer sexo
livremente
à vista de toda agente
sem complexo
Uauuuuu…
isso não…é só mesmo de cão!
Ficar enleado
com minha amada
em prolongado amplexo
e latir, latir, latir
até me fartar
Auuuuu… auuuuu… auuuuu!
Não fora o caso de ter que ter dono
de ser deixado ao abandono
ou de outra maior selvajaria
chego mesmo a pensar
se não valeria mais ser cão
que um vulgar cidadão
a quem na actual democracia
nada adianta ladrar
Vale de Salgueiro, 14 de Fevereiro de 2008
Henrique Pedro