Abro
a porta de trás da minha alma
que
dá directamente para o mundo
Ouço
sons ladrados no silêncio da noite
pios
fantasmagóricos de aves noctívagas
tiros
sons
de pneus a chiar
sirenes
de ambulâncias
choros
de crianças
gritos
de fome e de dor
clamor
de revolta
cães
à solta
insultos
blasfémias
ódios
gritados
amores
martirizados
violências
domésticas
ruídos
de discotecas
Vejo
milhares de mãos entendidas
no
umbral
tentando
forçar a entrada
sem
nada me pedir
Dou-lhes
poemas
do meu
jantar
frugal
para
eles caviar
certamente
Nada
mais tenho para lhes dar
Reluzem
luzes semeadas na escuridão da Terra
tremeluzem
luzeiros na obscuridade do Firmamento
Acendem-se
angústias na penumbra do meu ser
tenho
o coração em chaga viva
a
arder
Fico
pregado no Crucifixo que trago dependurado ao peito
ofusca-me
a luz do arrebol
Para
quando o Apocalipse, Senhor?
Já
no próximo eclipse
do
Sol?
Misericórdia!
Já?!Assim
tão de repente?
Dai-nos
ao menos tempo para vestir a Lua
que
anda nua
inocente
Vale
de Salgueiro, Terça-feira 3 de Junho de 2008
Henrique
António Pedro