Despedacem-me o corpo
e a minha vida se esvairá
num sopro
Retalhem-me o coração
Não encontrarão o mais leve indício
de afecto
a mais indelével marca da paixão
apenas sangue que livremente
escorrerá
pelo chão
Dissequem-me cérebro
Encontrarão apenas axónios
e neurónios
ondas cerebrais
e nada mais
Não perceberão uma só ideia
um só projecto
um poema
a mais leve crítica ao sistema
sequer
o menor traço de homem ou mulher
Mas eu estarei lá!
E continuarei a amar e a sonhar
a pôr-me a salvo
expedito
sem soltar um grito
nalgum outro lugar
fora do espaço-tempo
imune à chuva e ao vento
já no mundo do Espírito
À minha alma só Deus conhece a sua
anatomia
e só eu a sei dissecar
com poesia
Vale de Salgueiro, 16 de Abril
de 2008
Henrique António Pedro
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