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terça-feira, 18 de junho de 2013

Introdução ao amor digital



Há agora um novo modo de amar
de fazer amor à distância
de forma interactiva
e iterativa
sem contacto corporal
em formato digital
virtualmente virtual

Uma nova técnica de amar
em que os dedos da mão
são usados para teclar
e mover o rato
não para afagar os cabelos
tactear o corpo
ou sentir o bater do coração

Muito menos para titilar o clítoris
ou os lábios
como na forma de fazer amor convencional
analógica
animal

É amor cibernético
electrónico
“Webico”
“Internético”
que nos põe a voar por sobre os oceanos
planeta fora
cosmos além

Numa fantasia surreal
sem mal ou bem
que excita o corpo e o espírito
de forma informal

Mais facilmente os amantes se desnudam
à frente do monitor
se aproximam ou afastam ainda mais
sem condição
rompem as regras sociais
cometem a traição
virtualmente
sem causar dor

Mas…
Que poderá dar este amor
sem constrição
para que seja um amar de verdade?

…Tudo o que cada um tiver
para dar
em seu coração.

Vale de Salgueiro, 3 de Dezembro de 2007

Henrique António Pedro

domingo, 16 de junho de 2013

A Poesia é a coisa mais reles que existe




Não dorme
não come
não descansa
dança noite e dia
passa de mão em mão
num permanente afobo
vai para a cama com toda a gente
e anda na boca do povo

Então agora com esta coisa de Internet
é um desaforo
é demais

A coisa mais reles que existe
é a poesia

A toda a hora ela aí está
a saltar de continente
para cá e para lá
entre portugueses e brasileiros
e outros forasteiros
tudo gente demente

Tenham dó!

São milhares que se envolvem
com as poesias
e se entregam a confidências
dislates
disparates
até a traições matrimoniais, vejam só!
E a outras tantas fantasias

É demais!
A coisa mais reles que existe
é a poesia

Se a poesia fosse mulher

eu casava com ela

sábado, 15 de junho de 2013

É o fim do mundo



Dizem que o fim do mundo
está para breve
e que irá começar
lá pelo Oriente
onde a gente
é mais impenitente
e vive apenas para trabalhar

Nós por cá
pelas terras do Ocaso
teremos, assim, um certo tempo
adicional
para nosso bem ou nosso mal
nesse ínterim

O fim do mundo chegará aqui
om um certo atraso

Previamente alertados
teremos tempo para reflectir
e decidir
se nos pomos ou não a fugir
e para onde

O tempo suficiente
para evitarmos o pior
e muita gente se salvar

Será o fim do mundo
não o fim da gente

Aqui deixo este ilógico
aviso escatológico
que só deverá ser tido em conta

em caso de aflição maior

sexta-feira, 14 de junho de 2013

A irrelevância de Deus



Existir ou não existir
Deus
ser ou não ser
sob que condição for
não é a questão maior

No meu humilde entender
será irrelevante
até
porque Deus poderá dar-Se ao luxo
de nem ser
sequer

Tanto que deixa ao livre arbítrio
de cada um
Nele acreditar
ou não

Não deixa porém
de nos apontar o caminho
para que sejamos nós a reconstruir
o nosso próprio destino

Dá-nos a matéria para tanto
que é o Amor

O método
que é o Bem

E o cadinho também
que é a Dor

Este é
o tripé

de toda a Fé

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Rio Atlântico



Outrora foi um mar
o oceano Atlântico

Que as caravelas ousaram devassar
para pescar
saudade

Agora é um rio
de fantasia

Em cujas margens há poetas a pescar
poesia
e a acenar
Amizade

Um rio florido
de letras
rosas e violetas
de poemas
de todo o ano

Agora é um cântico
um oceano
um mar
o rio Atlântico

Que os poetas a toda a hora
ousam atravessar

tão só para se abraçar

terça-feira, 11 de junho de 2013

Meus poemas são como pardais





Meus poemas são como pardais
fazem o ninho nos beirais
de qualquer jeito

A nenhum enjeito
mas há os que prefiro esconder

Outros que me apetecer dar a ler
com sofreguidão
mal acabo de os escrever

Mas também há os que saem porta fora
sem sequer de dizer adeus
para não mais voltar

São poemas cruéis
desalmados
triunfantes
que partem sem dizer para aonde vão
e me partem o coração
como amantes
infiéis

Desses apenas fica uma ferida
na minha poesia sofrida

E há os que timidamente largam o ninho
como pardais em seu primeiro voo
e depois que aprendem a voar
voam livres
mas continuam sempre a cirandar
por perto
no meu afecto

Mas há ainda mais
os que me abandonam sorridentes
plenos de confiança
votados a gozar a vida
esbanjando todo o talento herdado
mas acabam por voltar
tristes
envergonhados
qual filho pródigo
caído no opróbrio

A todos abro a porta
dou guarida
e recebo no coração
mas aqueles que guardo escondidos
sãos os meus preferidos
de que dificilmente

abrirei mão