Quando a hora
da minha morte chegar
Quando a hora da
minha morte chegar
se é que algum
dia vou morrer
Quando o sangue
se me esfriar nas veias
mais vivas e
ardentes se revelarão as minhas ideias
Entregarei o
corpo com o coração na mão
à Mãe-Natureza para
reciclar
que dele melhor
fará
o que bem lhe
apetecer
Serei húmus,
seiva, sangue
vinho
aroma de pinho
erva aromática
papel de
gramática
grão de jade
Ou tão só
pó
Quem sabe?!
Por mim
ainda assim
gostaria de me
transformar num pinheiro viçoso
frondoso
altaneiro
num novo ser no
seio do novo pinhal
que plantei com
as minhas próprias mãos
ao sol do sonho
sem sombra de mal
As minhas mãos e os
meus braços se converterão em ramos
e os pés em
raízes
arreigadas bem
fundo nas entranhas da terra
já preparada
à minha espera
saradas todas as
cicatrizes
E o suor que
transpirei agarrado à enxada
será a resina
perfumada
que purificará o
ar
e dará nova cor e
vigor a novos pulmões
e a outros
corações
que pulsarão do
mesmo Amor
Mais vivas e
ardentes se revelarão
então
as ideias
Elas serão o
germe de novos sonhos
as sementes de
novas poesias
de mais lúcidos
dias
de mais clara
Verdade
as palavras-chave
da eterna Eternidade
Quando a hora da
minha morte chegar
se é que algum
dia vou morrer…
Quem sabe?!
Melhor será esperar para ver
Vale de Salgueiro, 21 de Fevereiro de 2008
Henrique António Pedro
in Introdução à Eternidade (1.ª Edição, Outubro de 2013)