Bebo café
em pé
ao balcão de uma qualquer pastelaria
O meu espírito anda longe dali
os olhos passeiam-se
absortos
por todo o lado
repousando vagamente em quem entra
e quem sai
sem segunda intenção
Neste ínterim
a empregada
mulher linda
traz-me um pastel de nata
e pergunta-me se quero canela
A nata não seria para mim
mas de pronto respondo que sim
com mesura
e mais digo sem pensar
tocado pela sua formosura
que a quero a ela
Em dois momentâneos lapsos de tempo
acontecem dois simultâneos amorosos lapsos de
memória
de amor, café e canela
agridoce rapapé
sem vanglória
Fiquei sem saber quem eu era
onde estava
o que fazia ali
e qual seria o meu papel na história
Ante o meu embaraço
a empregada
sorri
ruborizada
Oh, que dilema!
De pronto recupero a lucidez
anoto o sorriso
perdão
o poema
num guardanapo de papel
sem mais demora
A empregada sorri-me outra vez
agora descarada
de soslaio
mas eu sem mais nada
saio
Venho-me embora
não vá ter outro relapso lapso de memória
Vale de Salgueiro, sexta-feira, 11 de Dezembro de
2009
Henrique António Pedro