Seja bem vindo/a. A mesa da poesia está posta. Sirva-se. Deixe, por favor, uma breve mensagem. Poderá fazê-lo para o email: hacpedro@hotmail.com. Bem haja. Please leave a brief message. You can do so by email: hacpedro@hotmail.com. Well done.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Separação


Tanto nós nos amávamos
tão próximos tínhamos os corações
o seu bater era tão alegre e doce
que partilhavam veias
artérias
…e sangue
se necessário fosse

Tanto nós nos amávamos
tão próximos tínhamos os corações
que sentíamos os mesmos desejos
vivíamos as mesmas emoções
comungávamos das mesmas ideias
enredados nas mesmas teias
tecidas de aventura
sonho
fantasia
e futuro

Tanto nós nos amávamos
tão próximos tínhamos os corações
que no mais leve pensamento
percebíamos a presença do outro
ouvíamos o que cada um dizia
e por maior que fosse a lonjura do afastamento
e mais forte fosse o vento
viesse ele donde viesse
era o seu perfume que trazia

Tão próximos tínhamos os corações
que bastava um sussurro para ouvir
um arfar para sentir
um gesto
um toque
um pestanejar
para despertar o desejo
e ter ensejo de amar

Aconteceu a separação porém…
tão absurdamente…

Os corações separados estão agora tão afastados
que morando no mesmo lugar embora
mais estreito e incómodo é o espaço agora

Somos incapazes de nos ver e sentir
mesmo se nos cruzamos no passeio
e nos olhamos olhos nos olhos
e nem gritando impropérios
nos faríamos ouvir

Os corações separados estão agora tão afastados
que morando na mesma rua
vivemos em mundos diferentes
e é tão fria a indiferença
que apenas sentiríamos a solidão
se vivêssemos os dois sozinhos
no mesmo mundo
sós e vizinhos

Os corações separados estão agora tão afastados
que apenas partilham a mais fria indiferença
e é tão remota a hipótese de retomar
tão infinita impossibilidade

que nem capazes somos de nos odiar

terça-feira, 28 de maio de 2013

Contemplação



Sonho acordado

Deixo-me levar pelo vento
no voo do tempo
desasado

Cada momento presente
fecha-se em passado
e abre-se em futuro

Rasgo a bruma
da ilusão
escrevo poemas de espuma
inseguro
e voo
fascinado
com a leveza da pluma

O sonho é a próxima realidade
é a esperança
o pão da boca
a procura da verdade
o sangue do coração
o ar do espírito
a água da Razão

Deus só não nos deu asas
para que sejamos nós
a aprender
a voar

E a acordar

na contemplação

segunda-feira, 27 de maio de 2013

As mais belas poesias não as escrevem os poetas



As mais belas poesias
não as escrevem os poetas
e todos as podemos ler
que o mesmo será dizer
ver, ouvir e sentir

Como sejam os poemas Flor
Sorriso
Beijo
Abraço
Arrulho de rola
Nascer do dia
Confiança
o próprio drama Dor
e acima de todos
a doce melodia
Criança

São poesias escritas na linguagem do Amor
com rima rica de alegria
e versos da medida da Esperança

Poemas que estão publicados
um pouco por todo o lado
para serem lidos com o coração
tendo a verdade por diapasão
e muito, muito, cuidado
para que não sejam adulterados

As mais belas poesias

não as escrevem os poetas

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Era pelo Estio que se perdia a virgindade




Recordo aquele dia de Estio deleitoso

perfumado de feno, pinho e alecrim

o recanto umbroso do rio da mocidade

escondido entre fraguedos

guardiões da verdade

 

Aquela tarde sem fim

em que fui Fauno por encanto

e a minha doce companhia

uma Dríade lendária

quando sem sombra de mal

nos entregámos a inocentes

e aquáticos folguedos

sem maldades ou medos

 

Recordo as fugas simuladas

por entre giestas e fragas

as dissimuladas perseguições

o bater aberto dos corações

a ternura dos abraços

o beijo apaixonado

até então nunca experimentado

 

E recordo o momento mais ardente

em que nos demos por vencidos

tomados de paixão emergente

já completamente despidos

 

Virgens?!

… éramos os dois..

...E depois!?

 

Ninguém se deu conta

que naquela tarde de Estio perfumado

em que o amor desponta

sadio

perdêramos ambos a virgindade

levada para sempre

na limpidez da água corrente

 

Tudo ocorreu com naturalidade

com a correnteza da verdade

na mais pura e santa inocência

 

Não houve choros

nem ranger de dentes

nem palmas

nem traumas

ninguém levantou a voz

muito menos nós

a tal fizemos referência

 

Era pelo Estio

nas águas do rio da mocidade

que se perdia

a virgindade

 

!?

oiss

eramos onados nunca antes experimentados

In Mulheres de amor inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)


quinta-feira, 23 de maio de 2013

Eram tantos os beijos




Eram tantos os beijos
tão deliciosos
e amorosos
os abraços
tão apressados os passos
dos desejos
que ainda hoje
me apetece
voltar
a viajar

Embora
saiba
que ela
já não me espera
nem estará lá
para me receber

Ainda assim viajo
parto
e regresso
a toda a hora
sem querer
a fantasiar
confesso
sempre na esperança
de a reencontrar

terça-feira, 21 de maio de 2013

Amo e ando apaixonado




Amo
e ando apaixonado
o que soa
a contradição

Melhor será
deixar passar
o tempo

Contemporizar
amar
e paixão

Esperar
que mude a direcção do vento

Deixar
que seja outro
o bater do coração
e não
o que simplesmente se deseja

O amor
douto
não tem tempo

Mesmo pura
a paixão
nunca é definitiva

Nem dura toda a vida

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Amor, o nosso Deus




Deus é Amor!
Lê-se em todos os Livros Sagrados
dizem-no todos os grandes profetas
e místicos consagrados de todas as religiões
proclamam-no fiéis de todas as convicções
em seus cânticos de glória e louvor

Pois seja!
Façamos então do Amor
… o nosso Deus!

Judeus e gentios
cristãos de todas as confissões
islâmicos e budistas
cátaros e hinduístas
espiritistas e mações
gente de toda a cor
a todos une o Deus Amor

Mesmo aqueles que em Deus
não acreditam
ao Amor não deixarão de dar crédito
por certo

Pratiquemos portanto o Bem
no dia-a-dia
quando trabalhamos
amamos
ou escrevemos poesia

E sempre que alguém nasce
e nos enche de alegria
ou morre alguém e nos diz adeus
deixemos que o Amor nos inunde
e comande
façamos do Amor o nosso Deus

segunda-feira, 13 de maio de 2013

No início da Primavera




De ontem para hoje
lá fora nada mudou
e se alguma coisa de novo ocorreu
foram só enganos e mentiras

Apaguei o televisor
calei a rádio
rasguei os jornais
fiz off ao computador
libertei o coração

Dormi
sonhei
e mandei a crise às urtigas

De ontem para hoje
muitas coisas novas aconteceram
no meu mundo
neste Domingo de Ramos
início de Primavera

Há mais chilreios
mais anseios de amor
mais perfumes a pairar
no ar
mais botões de flor
a desabrochar
mais esperança
à espera

Apaguei o televisor
calei a rádio
rasguei os jornais
fiz off ao computador
libertei o coração

Neste Domingo de Ramos
início de Primavera

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Em mim não acredito e de Deus desconfio






O Cosmos de meu avô João

era toda a terra em que à luz das estrelas

semeava pão


O meu

é todo o espaço-tempo

em que planto poemas

eivados de dilemas

e de contrição

 

Cosmos infinito

mas pequenino

o meu!

 

Do tamanho do silêncio

indiferente

de Deus

 

Magistério de mistério

que professo como monge

porfiando poesia

 

A gritar poemas sem tino

e a acenar

a acenar

na esperança de que alguém

me virá salvar

 

Se é que não ando a deitar

tudo a perder

 

Em mim não acredito

e de Deus desconfio…

que só Ele

me poderá valer

 

Vale de Salgueiro, 24 de Outubro de 2007

Henrique António Pedro

 ção, Outubro de 2013)

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Assim a inspiração bate à porta




Geia lá fora
há estrelas no céu
a luzir
ao luar

Àquela hora morta
durmo a bom dormir

A Natureza que me rodeia
enrolada em silêncio
e neblina
é uma menina
que seria malvadez
acordar

Mas eis que a inspiração
bate à porta
a preceito
sem timidez

Pancadas fortes
rimadas
é um poema que quer entrar
que se obstina
em não se deixar esquecer
não tenho outro jeito
senão
me levantar

Ossos do ofício de poeta
que teima em dormir
de alma desperta

Pois seja

Ei-lo!

Amanhã
de manhã
mal o sol raiar
cuidarei de o publicar


in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)



segunda-feira, 6 de maio de 2013

Amor de Maio




Agora que entrou Maio
langoroso, sensual e perfumado
lembro
saudoso
e sorrio
com agrado

A pantera cor-de-rosa
que eu acariciava
temeroso
deliciado

No prado
ameno
à beira rio
marchetado de malmequeres

Reclinava a cabeça no meu peito
amorosa
a jeito de que eu a pudesse mimar
com a juba odorada de feno
a esvoaçar

A sua mão era a brisa
que me abria a camisa
e me convidava a voar

Agora que entrou Maio
langoroso, sensual e perfumado
lembro
saudoso
e sorrio
com agrado

domingo, 5 de maio de 2013

Amai mais e mais





Amai!

Amai
tudo e todos

Amai!

Amai
as pedras do caminho
o capim daninho que pisais

Amai
mais e mais

Amai!

Escutai vosso amor em eco
reflectido no horizonte
no ermo sem vivalma
no deserto mais seco
nas fragas do monte
dentro e fora de vós
mesmo se estais
sós

Amai!

Amai
a água que bebeis
o ar que respirais
não deixeis que a Natureza
seja conspurcada jamais

Amai!

Deixai que a voz do amor
se ouça mais
que o ranger de rancor
ou a raiva de dor

Amai!
Mais e mais

sábado, 4 de maio de 2013

À hora a que os ceifeiros dormiam a sesta





À hora a que os ceifeiros dormiam a sesta

 

Vou permanecer por aqui, por agora

postado neste meu calmo cais cósmico

natureza adoçada em ondas suaves de colinas

sobrevoadas por nuvens, no azul cerúleo

e por aves em revoada

que arrulham seus cantares de Primavera

desde o nascer ao sol-pôr, em divinas rotinas

de amor

 

Tudo observo e sorvo de alma calada

em espera paciente do dia em que irei renascer

 

Ainda não é a hora do crepúsculo

o sol mediurno ainda vai alto e queima

 

É a hora a que os ceifeiros dormiam a sesta

descansando da longa e penosa madrugada

 

Assim desejaria eu viver para sempre

fazendo do presente um eterno devir

malgrado os ventos desta angústia estranha

de um dia ter que partir

tenha eu, para tanto, coragem tamanha

 

Há já uma eternidade que espero

sem saber bem porque assim vivo

neste espaço-tempo feito de espuma

e de bruma

 

Mas esperarei mais outra eternidade

se necessário for

porque não duvido do Amor

acredito em Deus

e estou certo de ser eterno

 

E nunca digo adeus a ninguém

nem a coisa nenhuma

 

Vale de Salgueiro, 1 de Maio de 2008

Henrique António Pedro

 

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)