Angustiado
tremendo
de medo
extirpo o
cérebro com as minhas próprias mãos
para o
expor ao sol e ao vento
e
guardá-lo a meu lado no frasco de formol
colocado no
penedo que me serve de assento
Com a mão
direita espremo a memória
com a
esquerda aperto a razão
que balanço
com angústia incontida
tentando
determinar
qual
parte da consciência pesa mais
para a
alma assim dissolvida
A memória
apenas regista o instante em que a perdi
Será que
algum dia existi?
A razão
me diz que sem memória em que se apoiar
não poderá
escrever história
fazer
ciência
e projectar
o devir
Será que algum
dia voltarei a existir?
Da
memória e da razão de mim separados
são os meus
sentimentos levados pelas águas do rio
para o
mar da loucura colectiva
onde enlouquecem
Enterradas
nas areias
ficam
mesmo
assim
ideias
furtivas
que não
aquecem nem arrefecem
Nada
sinto
nem de bem
nem de mal
não choro
não rio
nem sei
onde moro
se existo
ou
existirei
Apenas
sei que sou consciência incorpórea
sem
história
nem
memória