Pinus é o meu dilecto pinheiro manso
que plantei ainda na adolescência
era ele um tronco frágil e pequenino
uma ágil, verde e viçosa excrescência
Abri uma cova no solo sáfaro
à força dos músculos e da enxada
enchi-a de terra fresca e macia
reguei-a com amor, suor e fantasia
e ali deixei a planta pequenina
bem protegida e aconchegada
entregue aos desígnios do Criador
Mas vi-o crescer ano após ano
cada dia mais forte e desmedido
tornar-se árvore imponente
admirada por toda a gente
paradigma do espírito humano
sereno, vigoroso e desinibido
Resiste, agora, às maiores tempestades
indiferente, em seu tronco robusto
apenas de copa em sereno agitar
para, mais sensato, as deixar passar
Mas quando a brisa é doce e suave
entoa então melodias de encantar
que acalmam o espírito intranquilo
e amaciam o coração expectante
com mensagens do Cosmos distante
que apenas eu ouso decifrar
Mil vezes penso no meu íntimo
certo de ser ouvido por Pinus
o meu dilecto pinheiro manso
que valeu a penas ter nascido e viver
só para o plantar a ele e o ver crescer
Deu-me Deus este privilégio
este insondável sortilégio
de aprender com aquele lenho vivo
a crescer robusto e sereno
e a resistir firme à adversidade
a fazer da vida um hino de Alegria
plena de Poesia e de Verdade
Henrique António Pedro
in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de
2016)