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segunda-feira, 23 de outubro de 2023

A mim, nenhuma explicação me foi dada


Eis-me aqui!

 

Ninguém me disse para o que vinha

nem se alguém estaria à minha espera

 

Ninguém me perguntou quem eu era

que país

que cor

que língua eu escolhia

em que mares eu queria navegar

em que ares desejaria voar

 

Terra

deram-me Terra

e mais Terra

Céu e mais Céu

para ser eu a desbravar

 

Nenhuma explicação me foi dada

 

Porém

alguém me abriu com amor a consciência

e eu por mim deduzi

também

que ideia sem afecto é fraco tecto

é má ciência

 

Alguém que me pôs luz no coração

sublime opção de Redenção

 

Foi Cristo que me disse para onde vou

e como irei terminar

por isso entendo eu

ser legitimo acreditar

que não irei morrer

pelo que a minha opção

só pode ser

viver e amar

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 6 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

História de um amor tresmalhado

 



Não foi o vento não

 

Foi uma lufada da mais cruel verdade

um ciclone de desilusão

que soprou pelo Outono

na alma indefesa

demasiado presa

ao coração

 

Foi uma aragem de angústia

um sopro de saudade

eriçada a destempo

em tempestade

 

A chuva dissolveu os versos

o vento dispersou as palavras

 

E as sílabas voaram feitas folhas soltas

por entre ruídos

de ideias rasgadas

 

Que nas voltas e reviravoltas da amargura

retornaram à razão

entristecidas

com o espírito votado ao abandono

esfrangalhado

roído de dor

caído na loucura

 

Restou

este poema memória

história triste

crua

de um amor tresmalhado

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 17 de Abril de 2009

Henrique António Pedro

 

terça-feira, 17 de outubro de 2023

É assim que eu te amo


Com o viço do jacinto

que resplandece em cada dia

com o sol nascente

é assim que eu me sinto

quando te vejo surgir de repente

a sorrir

inundando de alegria

o ambiente

 

É assim que eu te amo

 

Com o encanto do poeta

em quem o sorriso de uma mulher bela

que graciosa lhe sorri

desperta inspiração

sem outra intenção

que não seja olhar para ela

e amá-la

só de contemplá-la

 

É assim que eu te amo

 

Com a doce sensualidade

que emana dos anjos

é como eu te amo

 

E de que outra forma haveria eu

de te amar?

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 4 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

 

sábado, 14 de outubro de 2023

Acendo a minha própria pira funerária

 


Ergo a minha própria pira funerária

numa planície erma e desolada

em dia de vento gélido, neve e geada

quando o Outono já é quase Inverno

fujo do inferno


Amontoo folhas secas perfumadas

esqueletos de roseiras decepadas

ramos de oliveiras bentas

farrapos de bandeiras

livros, sebentas e jornais inúteis

lembranças de amores vencidos

sucessos, insucessos e vãs glórias

histórias de encantar

confidencias de fazer corar

 

Coloco ideias loucas a servir de rastilho

ponho-me de pé no topo do monturo

em pose olímpica

qual estátua de Júlio César

de calvície coroada de folhas de louro

faço o meu próprio auto de fé


Risco um verso

 

De pronto fumega a minha épica loucura

em breve surgirão as primeiras chamas

 

Torturam-me imagens das viúvas indianas imoladas

dos relaxados nas fogueiras da Santa Inquisição

dos kamikazes dementes do Médio Oriente e do Japão

dos bombeiros imolados nas Torres Gémeas

das crianças degoladas na Palestina

e abandonadas à sua sorte maligna

 

Quando as labaredas me alcançam

e ameaçam queimar-me

expludo!

 

É o meu espírito que estoura como fogo de artifício

e se reintegra no seio de Deus

 

De mim poeta nada resta

porque a minha inutilidade é total

 

Apenas uns versos soltos

fumos sem fogo

com as quais o vento se diverte

insuflando-lhes vida aparente

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 2 de Dezembro de 2008

Henrique António Pedro


 

 

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

A vida é um rio e a morte é o mar

 


 

A vida é um rio

e a morte é o mar

vazio

 

Rio de fantasia

a correr sem parar

de montante para jusante

e por aí adiante

 

Rio de agonia

que corre

veloz

do nascimento até à foz

onde morre

 

E nós no meio das águas

a ver as margens passar

só mesmo com poesia

ousamos nele navegar

ao sabor da sorte

tentando não nos afogar

embora certa seja

a morte

 

Morte que é um mar

vazio

sem espaço nem tempo

nem outro lugar

 

A vida é um rio

e a morte é o mar

onde as almas almejam velejar

nas ondas do destino

rumo à Eternidade

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 6 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro