É a
mais elástica
plástica
moldável
amorosa
amorável
álacre arte que se conhece
a poesia
Forma-se e deforma-se em mil formas de amor
de dor e de alegria
em
apostemas de todo o saber e sabor
Dá para tudo!
Para todos os santos e diabos
almas simples
espíritos iluminados
para o bem e para o mal
a todos serve por igual
Com rima ou sem rima
tem gente que a adora
e a estima
e gente que a odeia
a abomina
Gente que a toma a sério
e gente que dela se ri
Gente crente
e descrente
agnósticos
ateus
gregos e arameus
Presta-se a cantar
declamar
ler
sofrer
amar
odiar
insultar
enaltecer
glorificar
irritar
serenar
ou tudo deitar a perder
Existe em tudo
e por todo o lado
em todo o tempo
faça chuva, neve, sol
ou vento
seja
duro
ou
seja mole
Na virtude
no vício
na vida
na morte
no deserto quente
no gelado
no
desterro
encoraja
e causa medo
No céu
na terra
no mar e no ar
Na pena do erudito
no linguarejar do analfabeto
no espaço fechado
no campo aberto
no homem livre e no proscrito
na
estética e na moral
nos dias de hoje
e de ontem
na data pretérita
no
presente
do
indicativo
e no futuro condicional
A poesia está por toda a parte
é omnipresente
por isso também se diz
que os poetas são anjos
e a poesia é divina
Nada disso
A maior parte são sim
grandes marmanjos
e a poesia que escrevem
desatina
Mas eu diria
que
a poesia
não é nada disso
e os poetas não são ninguém
mesmo se nada devem
Diria que a poesia é fantasia
e os poetas são a poesia que fazem
e desfazem
em seu viver
de
amar e sofrer
mesmo se a não escrevem
Eu diria que a poesia
não é nada disso
e é muito mais
E que os poetas não são nada
nem ninguém
Diria que a poesia
é o que é
e os poetas
são o que são
Vale
de Salgueiro, quarta-feira, 27 de Outubro de 2010
Henrique
António Pedro