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sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Hoje faço anos!

 


Hoje faço anos!

 

Também os fiz de facto no ano transacto

 

Fazer anos é um frenesim

é um clamor de amor

ainda assim

 

É contar a idade da amizade

da felicidade e da alegria

com a graça da poesia 

 

Vivo encantado com quem amo

por isso bem não sei

quantos anos em cada ano

conto ou desconto

faço ou desfaço

 

Sem deixar de reclamar, para mim

quantos ainda não amei

quantos tenho para amar

encantos que renovo

 

Aqui deixo e não desleixo de verdade

 um conselho a quem for mais novo

da mesma idade ou mais velho

por feliz sortilégio

 

Não seja demente

estar vivo é privilégio

fazer anos um presente

 

Faça anos sempre em festa

não conte os que lhe resta

nem o passado desmonte

afaste de si a dor

deixe que brilhe amor no horizonte

 

E tome nota no que lhe digo

fazer anos é um dom

 não é castigo

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 9 de Dezembro de 2010

Henrique António Pedro

 

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Da verdadeira glória


A verdadeira glória gloriosa

lícita, livre, esplendorosa

é a glória de quem não tem poder


É a glória dos poetas, dos santos, dos artistas

de tantos que vivem de amar

e a ninguém fazem sofrer

tão pouco chorar


É a glória da paz e do amor

em todo o seu esplendor

magnificência da humildade


É glória que pela vida fora

por caminhos de sofrimento

embora

a crentes e a ateus

conduz a Deus


É a glória da luz da verdade

chamamento de Jesus

fulgor da eternidade

 

Vale de Salgueiro, sábado, 27 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro


 

 

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Apocalipse

 


Mil rostos tem a Hidra

mil cabeças e tentáculos

mil mandíbulas e garras

mil amarras da Razão

mil trágicos espectáculos

mil insanas ideias

mil sinistras teias da globalização

simulacros da Verdade

eclipse da Humanidade

apocalipse da Criação

 

Abro as mãos em oração

liberto a mente de toda a notícia malsã

amanso o meu coração

 

Deus existe

hoje como outrora e amanhã

apenas anda ausente

 

É satanás que no presente

comanda as nações

semeia a fome na Terra, a peste e a guerra

o temor nos corações

e pela mão do próprio homem

com mil máquinas e maquinações

sacrifica a vida e os animais

e mais agrava as catástrofes naturais

 

É o homem que expulsa as aves dos ares

aprisiona os rios e abate a floresta

transforma os oceanos em abismos de enganos

em funestos alvedrios

da Natureza já pouco resta

 

É o homem que vicia o amor e gera o ódio

conspurca o solo

envenena o ar

encobre o Sol e ofusca a Lua

toda a maldade é obra sua

Oh que triste episódio!

 

Das fontes já não brota poesia

antes veneno e desencanto

pranto e sofrimento

morte de toda a sorte

ofensa e aleivosia

mentiras a esmo

tristeza e lamento

resmas de pecado


Vale de Salgueiro, 8 de Novembro de 2007

Henrique António Pedro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 3 de dezembro de 2023

O amor me tira e me dá


Eu!? Como vou!?

 

Vou andando

amando

poetando

por aí

 

A mando nem sei bem de quem

talvez de ninguém

nada por aí além

 

Vou andando

amando

poetando por aí

tanto se me dá

como se me dou

assim eu sou

desde que nasci

 

Quem amo em mim manda

vou andando

amando

poetando

por aí

 

Eu não mando em quem amo

se é que mando

em alguém

nem mesmo em mim

mando

 

Quero sim é assim amar

a valer

o que o amor me tira

e me dá

 

Enquanto assim for viver

andando

amando

poetando

por amor

por aí

a mim me amando

não vou morrer

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 10 de Dezembro de 2010

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Abro a porta de trás da minha alma

 


Abro a porta de trás da minha alma

que dá directamente para o mundo

 

Ouço sons ladrados no silêncio da noite

pios fantasmagóricos de aves noctívagas

tiros

sons de pneus a chiar

sirenes de ambulâncias

choros de crianças

gritos de fome e de dor

clamor de revolta

cães à solta

insultos

blasfémias

ódios gritados

amores martirizados

violências domésticas

ruídos de discotecas

 

Vejo milhares de mãos entendidas

no umbral

tentando forçar a entrada

sem nada me pedir

 

Dou-lhes poemas

do meu jantar

frugal

para eles caviar

certamente

 

Nada mais tenho para lhes dar

 

Reluzem luzes semeadas na escuridão da Terra

tremeluzem luzeiros na obscuridade do Firmamento

 

Acendem-se angústias na penumbra do meu ser

tenho o coração em chaga viva

a arder

 

Fico pregado no Crucifixo que trago dependurado ao peito

ofusca-me a luz do arrebol

 

Para quando o Apocalipse, Senhor?

Já no próximo eclipse

do Sol?

 

Misericórdia!

Já?!Assim tão de repente?

 

Dai-nos ao menos tempo para vestir a Lua

que anda nua

inocente

 

Vale de Salgueiro, Terça-feira 3 de Junho de 2008

Henrique António Pedro


quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Quem nunca pecou que me atire a primeira pedra

 


Entrei no templo mais escuro e distante para me confessar

como manda a religião

 

Por meu livre alvedrio deixei os pecados mais leves à porta

e avancei na obscuridade

arrastando-me no lajedo frio como se condenado ao degredo

tal o peso que me curvava dos pecados mortais

 

Não encontrei padre algum, porém, para me ouvir em confissão

pelo que apelei ao Papa mas também ele estava ocupado a pecar

 

Apenas um santo ermita guardião postado à saída

me aspergiu com água benta e me disse

que só pecam os anjos e os cidadãos banais

os donos do mundo não pecam porque cumprem o seu mister

que é pecar

 

Aqui e agora por isso me confesso publicamente

a vós irmãos

 

E se vós me perguntais de que pecados me confesso

direi apenas que ando no mundo por ver andar os outros

os meus pecados são iguais aos vossos

tantos e tais como os demais

 

Quem nunca pecou que me atire a primeira pedra, portanto

ainda que eu não duvide que algum de vós seja santo

 

 

Vale de Salgueiro, 2 de março de 2017

Henrique António Pedro