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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Aposto que este poema é o mais estúpido



Aposto que este poema é o mais estúpido
de todos os poemas que algum dia foram escritos
embora poemas por escrever
haja aos milhares e a ferver
desejosos de se dar a conhecer
neste ínterim

Poemas à espera de poetas proscritos
que os queiram assumir
sendo certo que em poesia
tudo pode coexistir

Ainda assim
meus senhores
este poema só não será o mais estúpido
se for apreciado por um número suficiente de leitores
alguns dos quais lhe acharão graça
e haja até quem me diga que gosta

Alguém poderá mesmo considerá-lo genial
e então eu concluirei afinal
que maior é a minha desgraça

porque perdi a aposta

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Badaladas desconcertadas do coração




Doze badaladas o coração bate
ao meio dia
como cão a latir

Ruidosas
apressadas
pressurosas
a fugir
a saltar fora do peito
a viver fora de si

Outras doze badaladas o coração bate
à meia-noite
como vento a rugir
fora de tempo

Langorosas
arrastadas
pesarosas
a parar
para morrer
dentro do si

Doze com doze são vinte e quatro
badaladas
desconcertadas
que a vida tem
mais aquelas que o coração bate
no ventre de nossa mãe

Mais aquelas descontadas
se dormimos
ou não sentimos
o coração bater
por ninguém
mundo fora
hora a hora
aqui
ali

além

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Não chores por mim, Argentina!


Não chores por mim
Argentina

Nem digas que vais ficar
para sempre
à minha espera

A ti, eu jamais direi adeus

As lágrimas de amor
e de infundado temor
que vejo luzir em teus olhos
neste meu hesitante partir
sem te dizer se vou voltar
acendem saudades nos meus

Pensa antes, amor
nos molhos de poemas e de flores
que te irei ofertar
já na próxima Primavera

Mas não me digas, por favor
que vais ficar
para sempre
à minha espera
que me deixas desolado
a pensar
que poderei
não poder
voltar
jamais

E eu não quero que seja
assim tão demorado
o teu sofrer

in Mulheres de amor inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)

quarta-feira, 31 de julho de 2013

As estrelas



Vivo no campo
confrontado com o encanto
do Cosmos e da Natureza
noite e dia

De dia é o Sol
que desde a aurora
com esplendor e beleza
me desafia

À noite são as estrelas
e é a Lua
que de amor estua
e me alumia
de soledade

As estrelas estão lá no Céu
no regaço do Universo
cobrindo todo o espaço
com seu véu
de luz e verso
e espiritualidade

Pequeninas
bruxuleantes
a chamar por mim

Lá no Firmamento
sem fim
a espevitar o meu pensamento

Pequeninas e distantes
a dizerem-me ainda assim
o que nem sei
imaginar


Por mais que ande
só serei
verdadeiramente grande
quando as alcançar

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Amar de novo



Abraçam-se

Beijam-se
e amam-se
como se fossem únicos
na Terra
como se houvesse só aquela cama
e estivessem sós no Sistema Solar

Não tinham dúvidas
de que não existia mais ninguém
nos restantes planetas
nem se importavam com isso

Estavam de facto sós
na companhia um do outro
e entregues à sorte do seu amor
no sistema solar da sua paixão

Na sua cidade, porém
havia mais homens e mulheres
que moravam na mesma rua
mesmo a seu lado

E havia muitos mais na Web
nos cinco Continentes
na Terra inteira
nas esquinas da vida
nas estradas da insatisfação

Sem limites de velocidade para a dor
ou para a desilusão
era só a acelerar
sempre
sem parar

Por isso, quando arrefeceu o ardor
desencontraram-se numa nova paixão
que não se previa

Será que um dia
se reencontrarão num novo amor?

Numa nova
e mútua paixão?

Que voltarão a amar-se de novo?


E porque não?

sábado, 27 de julho de 2013

Apascentando estrelas ao luar


A Lua

já ali está

esplendorosa

cheia

cristalina

desde o sol-pôr

 

Pousada no horizonte

ao alcance da mão

toca-me o coração

com mil estrelas a cintilar

em seu redor

como se eu fora seu pastor

 

O som estridente das cigarras

é agora ensurdecedor

 

O Sol

que espanta as estrelas

durante o dia

à noite deixa-as viver

emprestando a luz à Lua

que a Lua derrama em luar

e fantasia

 

O aroma do alecrim

que perfuma o vento

entra por mim a dentro

 

Alcanço

por fim

o topo da colina

com o espírito circunscrito

no amor de Jesus Cristo

 

Quedo-me por ali

a destempo

até o Sol nascer

apascentando estrelas a refulgir

no redil do meu olhar

acorrentado ao dever

olvidado do devir

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 27 de Julho de 2010

Henrique António Pedro

terça-feira, 23 de julho de 2013

A poesia não é nada nem ninguém



A poesia é um sopro
o borbulhar na superfície da consciência
de mil humores desconhecidos que nos fervem na alma
e no corpo

E os poemas
são borbulhas de sonhos
de afectos
de desejos
que rebentam em palavras
e expelem harmonias e cores
muitas vezes descompassadas
descoloridas
e que nem ideias são

Bolhas que poderão salpicar outros espíritos
e correr mundo
ou simplesmente implodir em angústia

Porque nem toda a poesia almeja ser poema
ainda que seja latente tal sonho

A poesia é como uma mãe
que se amamenta a si própria
e derrama mel
e leite
e fel

A poesia é uma mãe
e os poeta filhos pródigos

A poesia não é nada
nem ninguém

é uma coisa como outra qualquer

domingo, 21 de julho de 2013

Aquém e além da morte



Aquém da morte
é a vida

A certeza da dor
e a incerteza do amor

O prazer
e a alegria fugaz
a procura da paz
o recurso ao sonho
e à fantasia do futuro risonho
o constante construir da saudade

Além da morte
é o além
da vida
sofrida

a esperança de eternidade

sexta-feira, 19 de julho de 2013

A minha sombra




Caminho em direcção ao Sol


A minha sombra segue-me

persegue-me

vem atrás de mim

cola-se a meus pés nesse ínterim

irritante

enorme

disforme

escura

rastejante

obscura

 

Rodopio de repente

volto as costas ao astro rei

tomo o caminho de sentido inverso

tão pouco parei

 

De pronto a minha sombra me passa à frente

me repassa

sem desvio

em desafio

 

Se danço ela dança

se paro ela para

se corro ela corre

tão veloz quanto eu

 

Piso-a

trepo-a

pontapeio-a

 

Ela foge ao ritmo dos meus pés

sempre colada ao chão

sem me sair da Razão

 

Gostaria que ela se levantasse

e me enfrentasse

para eu poder ver quem ela é

e quem eu sou

 

É só um temor que me assombra

a minha sombra

um medo

um receio

uma amargura imerecida

que mora no meu coração

 

O que eu mais queria era ser transparente

ver-me por dentro

 

Gostaria que fosse luminosa como o Sol

a minha sombra

colorida da cor do amor

reflexo do meu viver

 

A sombra da minha alma

é a minha poesia

 

Por isso escrevo um novo verso

a cada passo

e passo a passo

passo a um novo poema

noutro compasso

 

Entoo nova eufonia

caio em novo dilema

até que o meu espírito se cala

e se acalma

 

Vale de Salgueiro, domingo, 21 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro

 

 

terça-feira, 16 de julho de 2013

Ao ritmo do que me vai no peito



Martelo palavras sem jeito
ao ritmo do que me vai no peito

Teclo por teclar
sem pauta nem rima
é a angústia que me anima

Sentimentos sem razão de ser
sem tegumento
que se me enrolam no corpo
como sarmento de videira

Quiçá sopro de vento divino
que me embriaga como vinho
a vida inteira

Sou um cálice
transbordante de poesia
poção efervescente de fantasia

Bebo
o meu próprio sangue
e exangue
continuo a cantar

Até que adormeço
na esperança

de tornar a acordar

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A razão de tudo ser



Parto do tempo que conto
e do espaço que ocupo

Da dor que sofro
da verdade que desconheço
do infortúnio que não mereço
da felicidade que anelo

Na minha Razão o tempo
vira Eternidade
e o Espaço
infinidade

No meu Coração
a dor vira Amor
e eu
irmão de toda a gente

E Deus
absolutamente

a Razão de tudo ser

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Acabaram-se as metáforas



Os pensadores modernos ainda acreditaram
durante algum tempo
que a globalização seria uma gigantesca metáfora de esperança
geradora de mais e mais metáforas de felicidade

Sabe-se agora que tudo não passava de uma monumental obscenidade
que se pulverizou em versos malditos
nas lavras de palavras obscenas
de poetas proscritos

Acabaram-se as metáforas!

A indústria nacional do sector faliu
e nenhum outro país de língua supostamente portuguesa
está capaz de as produzir

O problema parece ser ainda mais grave
porquanto em nenhuma parte do mundo há metáforas disponíveis


A Humanidade parece assim condenada a deixar de sonhar
a comer pedras e a beber mijo

No ar só já voam os aviões particulares dos machuchos árabes
e angolanos
e no mar só já navegam os iates dos barões da droga e dos traficantes de armas

Nas escolas apenas se recitam poemas marciais de Kim Jong-un
e se estudam discursos de Fidel Casto

Extremistas muçulmanos passeiam-se livremente
no Quartier Latin
com diademas de explosivos
Mahmoud Ahmadinejad serviu caldeirada de bombas atómicas na festa do seu aniversário
e a China continua a invadir a Europa com sucessivos tsunamis de lixo

O Departamento de Defesa americano projecta colocar um chip
no cérebro de todo o ser vivente
e o Pentágono planeia atacar a Suíça

Na Europa só já há olhos para o “pas des deux” da senhora Merkel
e do seu ministro Wolfgang Schäuble
e em Portugal os partidos políticos ganharam, por fim
o estatuto de nobres associações de mal feitores

O triunfo do niilismo mais radical é inevitável
o fim da Civilização aproxima-se

E depois?
Teremos que começar tudo de novo
Reconstruir um novo Mundo
Restaurar a Humanidade
Reinventar a democracia
Reescrever uma nova poesia
Tomar a sério o Papa Francisco

Sem metáforas
tropos
trapos
metonímias

e outras pantominas

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Esta forma de dor vale a pena sofrer




Passa leve
graciosa
envolta em sedução
perfumando o ar
e inundando o mundo de alegria
com a luz do seu olhar

Só a mim não me dá atenção
por teimosia

Tão pouco me sorri
maldosa
que nem uma rosa
que teima em tudo deitar
a perder

Todo o amor
que nela projecto
se reflecte em dor
no meu coração
inquieto

Não a tive e já a perdi
porque tê-la não consigo

Será que me ama
sabendo-me infeliz
e mais me faz sofrer
só porque nada me diz?

Se assim é, então lhe digo
com simpatia
neste poema breve e leve:
«Esta forma de dor
«vale a pena sofrer
«só para te poder amar
«e continuar
«a escrever

 «poesia!»

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A poesia só tem sentido porque a vida o não tem



A poesia só terá sentido
se o poeta ousar procurar
a razão de ser
e de sofrer
a melhor forma de bem-fazer
e de mais amar

A poesia só terá sentido
se o poeta jamais se der por vencido
se com seus versos a si se libertar
e a mais alguém
der liberdade
também

A poesia só tem sentido
porque a vida o não tem

A poesia perde a razão
se ousar esquecer

o coração

terça-feira, 9 de julho de 2013

A última noite que dormi com ela



Agora sim
sei

Na última noite que dormi ela
ela já não estava mais
ali

Embora tudo tenha feito
para que eu não a pudesse esquecer
jamais

E passasse o resto da vida a sofrer
por ela
rasgando-me esta chaga no peito
que continua por sarar
e a doer
demais

O anjo adorável
que havia sido
até então
meiga
amável
e verdadeira
naquela noite derradeira
transfigurou-se em Medusa
numa permanente companhia intrusa
que me persegue para toda a parte

Numa mulher ultriz
dona de toda a arte
numa matrona
meretriz

Os beijos e abraços
a inebriante sofreguidão
os gritos de prazer
que coroaram o seu último orgasmo
foram só afinal
o estertor do amor
espasmo da paixão
alvor da vingança

Acto sexual que para meu mal
ainda hoje sinto
e oiço
em surdina
me baila na retina
e sempre se insinua nos meus desejos
como brasa acesa na lembrança
tição incandescente
cujas cinzas escaldantes
continuam a escaldar-me

o coração

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Amantes de cristal



Só sabiam amar-se, assim
envoltos em véu
de fantasia

Com as estrelas a cintilar
no céu
pairavam em silêncio
no Firmamento
de mãos dadas
e de rostos irisados
de prateada alegria

Ou vogavam como cisnes
ao sabor do vento
no lago da poesia
num sonho de fadas
em noite irreal

Eram sombras de luar
amantes de cristal

Até que um dia
a paixão do Sol
pecado alado
os abraçou
envolvendo-os no lençol do desejo
logo ao primeiro beijo

E não tardou
que o sonho de amor
se quebrou
num golpe inesperado
tilintando de dor

Eram amantes sem mal


De cristal

domingo, 7 de julho de 2013

A Razão de Ser



Parto do tempo que conto
e do espaço que ocupo

Da dor que sofro
da verdade que desconheço
do infortúnio que não mereço
da felicidade que anseio

Na minha Razão o tempo
vira Eternidade
e o Espaço
infinidade


No meu Coração
a dor vira Amor
eu irmão
de toda a gente

E Deus
absolutamente

a Razão de Ser