Quando
e onde nasci
mum pequeno mundo rural
do Portugal
implantado na Europa
por engano
ainda se bendizia a Deus
pelo pão de cada dia
se benziam as colheitas
de cada ano
e se celebrava o seu
sucesso com alegria
Porque se sabia quanto
custava
andar um ano inteiro a
mourejar
ao sol ardente
à chuva
ao frio
e à geada
para se conseguir o
sustento
um naco de pão que fosse
arado, semeado, ceifado,
malhado, moído, amassado, cozido
partido e repartido
com dor
amor
e suor
à força da enxada
e do timão
Mergulhou-se depois num
mundo fácil
de frágil
e fugaz ilusão
Com demasiada gente que deveria
chorar mas que cantava
e ria
por tanto ter que
esbanjar
que adorava os falsos
deuses que lhes punham a mesa farta
e do mundo da miséria os
apartava
mas lhes encondia a
verdade
Agora
são milhares os seres
humanos que não têm que comer
nem deuses a quem
agradecer
e que apenas têm
lágrimas
para partilhar!
Mais a angústia de não
saber que fazer
Agora
mais do que nunca
tem sentido a palavra
solidariedade