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terça-feira, 21 de julho de 2020

Racismo





Racismo é eufemismo
seródio
de ódio
e maldição

O homem livre
liberto ou não
das grades da prisão
não se toma de angústia
nem sente rancor
em seu coração

O preto que é preto
o negro que é negro
têm a brancura do amor no olhar

E o branco que é branco
não tem riscos de carvão na razão
antes a alvura do seu amar

Viver só é vida
sem ameaças de morte
ou sentimentos de má sorte



Vale de Salgueiro, 20 de julho de 2020



segunda-feira, 13 de julho de 2020

A monção não traz a paz









Hoje
Não fui ver o pôr-do-sol
Não se ausentou a guerra de meus olhos
Nem senti que no céu lilás
Surge sempre um novo dia

Caminhei
Mais agitado que o vento
Que raivento varre a terra
Como se sua vontade de paz
E de amar
Fosse maior que a minha

...minha vontade amar é um ar assim raivento!

Hoje
Não fui ver o pôr-do-sol
Não se ausentou a guerra de meus olhos
Nem senti que no céu lilás
Surge sempre um novo dia
Vi que a monção não traz a Paz

...a monção não traz a Paz!

Caminhei
Mais agitado que o vento
Que raivento varre a terra
Minha vontade de paz
E de amar
É um ar assim raivento

...a monção não traz a Paz!
...a monção não traz a Paz!
...a monção não traz a Paz!


Nangade, 28 de Outubro de 1972
in Poemas da guerra, de mim e de outrem (Editora Piaget-2000)






quarta-feira, 24 de junho de 2020

Maria Soledade





Maria Soledade

in Mulheres de Amor Inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)

 

Marcámos encontro para o sítio de sempre
embora de antigamente
num banco de jardim à beira do passado
que 
como sempre

embora antigamente
se encontrava desocupado

Ambos na ilusão de que voltaríamos a passear de barco

abraçados
como cisnes enamorados

Eu

ansioso

julgava reconhecê-la em cada transeunte

que se aproximava
e que tentava reconhecer-me

Ela

ainda assim

já se encontrava sentada no banco ao lado
há tanto tempo quanto eu
sem que eu a tivesse reconhecido a ela

nem ela a mim

Eu escutava

sim

os seus pensamentos
que eram eco dos meus

Mas não!


Não era ela aquela que eu amei
ela não era aquela que me amou
eu não era aquele que ela amou
nem eu era aquele que a amou a ela

Acabámos por voltar a partir
sem sequer sorrir
como se nem um nem o outro
tivéssemos comparecido ao encontro

Embora continuássemos convictos
de que ainda nos amávamos

Como sempre
embora antigamente


Vale de Salgueiro, sábado, 23 de Maio de 2009
Henrique António Pedro


segunda-feira, 22 de junho de 2020

Valquíria Sigrdrifa




Sinto-lhe o sopro
Finjo-me morto

Beija-me a pele
Besunta-me de fel

Beija-me os pés
Para mos decepar

Beija-me as mãos
Rói-me os dedos
Rouba-me os segredos

Beija-me os ouvidos
Para me ensurdecer

Beija-me a boca
Para me emudecer

Beija-me o sexo
Para me capar

Beija-me o coração
Exangue
Chupa-me o sangue

Beija-me os olhos
Para as lágrimas
Me sugar

Beija-me a face
Para me desfigurar

Está escrito
Resisto

Beija-me de morte
Sem me matar

Quer-me vivo
Nem morto nem vivo
Seu quero ser

Vá para onde eu for
Sigrdrifa me persegue
Com ardor

Beija-me a alma
Sugar-me o espírito
Não consegue

Sou um guerreiro invicto
Jamais um proscrito

In “Mulheres de Amor Inventadas”
Vale de Salgueiro, terça-feira, 10 de Agosto de 2010
Henrique Pedro



segunda-feira, 25 de maio de 2020

A feia bonita Beatriz




Uma feia bonita
mulher ultriz
é raiz
deste poema
contrito lamento
feérico fonema

Suspeitava que Beatriz me amava 
mas eu não sabia
o que comigo se passava

Tonto
disse-lhe que a achava feia

Era só meia verdade
a outra meia
era que muito a estimava

Mas a ultriz Beatriz 
de pronto
me fez a vontade

Nunca mais me olhou
nem me procurou
e o meu coração mergulhou
na mais cruel ansiedade


in Mulheres de amor inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)


quinta-feira, 21 de maio de 2020

Não tapem os buracos da minha rua





Não tapem os buracos da minha rua
que eu quero ver 
neles reflectidos
o Céu
o Sol
as Estrelas
e a Lua
sempre que chover

Quero ver as nuvens a passar
empurradas pelo vento
e viajar com elas
em pensamento

Que eu quero ver
da minha janela
por detrás da vidraça
os salta-pocinhas
videirinhos
os pisa flores
a saltar de pedra em pedra
tão cheios de graça
e cautela
que acabam por pisar
na merda

Quero ver as damas emproadas
vaidosas de tanto asseio
a pavonear-se no passeio
ciosas da sua fama
serem salpicadas de lama
se algum carro passar
a alta velocidade
sem lhes ligar

Que eu quero poder manter
a irreverência de criança
e sorrir
com a esperança
de que a Humanidade
acabará por banir 
a hipocrisia
e governar-se pela Verdade

Quero eu poder viver a vida
com poesia
sem forçar o destino
e tornar a ser menino
sempre que me aprouver


Vale de Salgueiro, domingo, 14 de Março de 2010
Henrique Pedro

sexta-feira, 15 de maio de 2020

O dedo do vírus



Filósofos
Pensadores
Poetas
Profetas
Políticos
Cientistas
Santos e sacristas

Com seus génios
Fizeram história por milénios

Moldaram a Humanidade com amor
Mentira e verdade
Ódio e paixão
Paz e guerra
Por toda a Terra

Domarem instintos
Enalteceram virtudes
Ergueram a Civilização
Insana

Agora
Um vírus invisível
Incontido
Unha de um dedo desconhecido
Da mão escondida do diabo
Instrumento do pecado
Destroça a Humanidade ensandecida

Vale de Salgueiro, 10 de Maio de 2020
Henrique Pedro


domingo, 26 de abril de 2020

E se eu lhe chamar “filho da mãe”?




(Para todos os políticos que governam este País, com excepção de dois ou três a quem conheço as mães.)

Fica desde já assente
Que tu
Não és tu que me lês

É um outro qualquer
Poderá mesmo ser
Quem tu quiseres

Mas eu sou eu
Porque poeta que se preza
Finge
Mas não foge
Nem mente
Nem sacode a água do capote

Tu vais-te zangar comigo
E poderá acontecer que na passada
Eu me zangue contigo
Não vote
Antes te corra à lambada

E porquê?!
Se eu nem conheço a tua mãe
Tão pouco o teu pai

Mas eu não tenho a menor dúvida
De que és filho da mãe
Filho da República corrupta que te aleita
E a quem mamas na teta
E com a maior desfaçatez
Dizes que o fazes
Para bem do povo português
Conversa da treta
Queres é continuar a mamar

Olha, seu filho da mãe
Seu periquito!

Para a próxima
Quando me pedires para votar
Faço-te um manguito





quinta-feira, 23 de abril de 2020

Aponta-lhe um poema à cabeça e dispara!



Acaba com ele
com poesia
e de vez

Aponta-lhe um poema à cabeça
dispara
e pronto
tudo se consuma
e esfuma 
com alegria
talvez

Que descanse em paz
e sem dor
o imundo político dono do mundo
pequeno
paralítico 
grande
infame 
tanto faz

Dissolve-lhe os ossos o tempo
dilui-lhe o poder o vapor
da morte
triunfa o evento maior
o Amor

Com um pouco de sorte
a Liberdade vai continuar a soprar
sobre a Terra
enquanto houver ar para respirar
pão para comer
poesia para compor
e declamar
e sonhos para sonhar

O poderoso maior
é tão pequeno como nós

Ande por onde ande
só a Verdade é grande

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 25 de Outubro de 2010
Henrique Pedro

terça-feira, 21 de abril de 2020

Já não basta votar!



É preciso fazer mais, mais e mais
Já não basta votar

O País está em crise
O Povo esfomeado
A Nação a definhar
À espera de salvação

O Estado foi espoliado
A Pátria expatriada
A República traída
A Democracia viciada
A Família pervertida 
A Língua apunhalada
A Justiça adulterada

Votar é branquear a situação
É preciso fazer mais, mais e mais
Nas ruas
Nas urnas
Nos tribunais
E nas redes sociais
Urge forçar o fim da corrupção
Que o Povo assuma seus direitos de novo
Os deveres de cidadão

Portugueses, gritai basta!
Gritai não!

A Bem da Nação
É forçoso votar bem

             Vale de Salgueiro, sexta-feira, 21 de Janeiro de 2011
             Henrique Pedro




terça-feira, 7 de abril de 2020

Os donos do mundo andam a brincar com o fogo



Embriagados de poder

De fausto e falsa glória

Russos, americanos e chineses

Julgam-se deuses

Os maiores da História

 

Fiam-se na força da arma nuclear

Nas suas guardas pretorianas

Nas legiões de bombistas suicidas

Nas ensandecidas massas insanas

 

Ameaçam por o Planeta a arder

Tudo deitar a perder

E com ódio, vírus e petróleo

Imolar a Humanidade

Na pira da sua imoralidade

 

Serão donos do mundo e da guerra

Mas não são senhores da Terra

 

A turba que por ora lhe bate palmas

 Lhes comerá os ossos e as entranhas

E ss labaredas do inferno eterno

Lhes consumirão as almas

 

Não conhecem a palavra amar

Para eles uma vida não vale uma palha

Mandam matar quem lhes resiste

Os donos do mundo brincam com o fogo

O trágico jogo do Apocalipse

 

Que a Senhora de Fátima nos Valha!


terça-feira, 31 de março de 2020

Plantemos poemas nos pântanos



Não fiquemos à espera

Nos pântanos
onde vegetam vícios e vírus
por toda parte
onde germina a dor
e a paz
jaz
plantemos poemas de amor

Florirão flores-de-lis 
e de lótus
ao que o coração me diz
já na próxima Primavera

E não haverá mais fome
ou guerra
sobre a Terra

E uma pandemia de alegria
iluminará de felicidade
a Humanidade

Vale de Salgueiro, domingo, 19 de Dezembro de 2010
Henrique Pedro

sábado, 21 de março de 2020

Poeta não é profissão





Poeta não é profissão
Não

É predisposição
Estado de alma
Força da natureza
Forma de beleza

Ser poeta é como ser herói
Santo
Explorador
Aventureiro
Pioneiro da conquista do Everest
Ainda que a sua poesia não preste

Nenhum poeta se alimenta
Do pão amassado com os poemas
Que escreve

O poeta acende o espírito
Com a poesia
De que se veste
Com fantasia

O poeta é um visionário diletante
Porque a vida é um fluxo
E um refluxo
Constante
De poesia
E vento

Poeta não é profissão
E a poesia não é entertenimento
Ou ocupação

O poeta é missionário
Voluntário
E a poesia
Missão


Vale de Salgueiro, quinta-feira, 15 de Abril de 2010
Henrique Pedro

sexta-feira, 13 de março de 2020

Deitei-me nu com a minha amada nua


(Desenho de carvão em papel, intitulado e datado de 1939, Almada Negreiros)


Naquela leda madrugada

deitei-me nu

com a minha amada

nua

despidos de tudo

vestidos de nada

 

O amor nos despiu de nós

a sós

a sonhar

e a Lua nos vestiu

de luar

 

Ela me envolveu e fascinou

com sua pele

de mel

e eu cobri-a com a minha

empoada de pós de brilhantina

fluorescência

da inocência

que toda a noite nos iluminou

em eterna fantasia

 

E o Sol não se pôs

nesse dia

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 24 de Abril de 2009

Henrique António Pedro

 

segunda-feira, 2 de março de 2020

O Deve e o Haver do Amor



O que é a Felicidade
na verdade
não sei

Também o que é a Verdade
não tenho a felicidade
de saber

Da Felicidade conheço, porém
o paladar
e da Verdade
o querer

O sabor da Felicidade é o Amor
e o sentido da Verdade é o dever

A Verdade é o deve
a Felicidade o haver

Verdade e Felicidade
só podemos almejar
por via de amar
sofrer
e bem fazer 


Devemos amar
para havermos amor