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domingo, 11 de julho de 2021

Continuo à espera de um sinal


Venha ele de onde for

venha de dentro

ou de fora

continuo à espera de um sinal

 

Seja um cicio

um sorriso

um compromisso

um olhar

um beijo

um lampejo de desejo

um abraço apertado

 

Talvez um fenómeno inesperado

um sussurro de vento

uma ideia avivada

um lampejo de luz

que ilumina

cativa

seduz

e faz acreditar

 

Talvez o testemunho de alguém

que também continua à espera

por sinal

de um sinal

 

De um fogo de amor no coração

do fim da dor

da chama da iluminação

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 19 de Outubro de 2010

Henrique Pedro


sexta-feira, 9 de julho de 2021

A medida Eternidade

 


Eternidade é medida de tempo

Infinito medida de espaço

O bater do coração não passa de um ritmo

Pouco mais que uma extensão, é um abraço

 

De quantas pulsações se compõe, então

A Eternidade?

E de quantos abraços o Infinito é feito?

 

O coração me diz, contrafeito:

Eternidade e Infinito

Existência e dor

Têm a amplidão da Verdade

E tudo se reduz à dimensão do Amor

 

Vale de Salgueiro, 6 de Maio de 2008

 

Henrique António Pedro

in Angústia, Razão e Nada ( Editora Temas Originais-2009)


sábado, 3 de julho de 2021

Agora ando a aprender a pensar


Andei a vida inteira

a aprender a melhor maneira

de bem raciocinar

 

Oh, que grande asneira!

 

Aprendi a soletrar

palavras e letras

a ler

e a escrever

 

Tretas!

 

Aprendi números e algarismos

a contar

somar

subtrair

multiplicar

e dividir

 

Calculismos!

 

Devorei compêndios de gramática

e de matemática

poesias e analogias

tratados de ética e de lógica

físicas e filosóficas

 

Fantasias!

 

Aprendi a falar verdade

e a mentir

a ficar e a fugir

a tocar violão

a matar ou morrer

a sobreviver

 

Socialização!

 

Agora ando a aprender a pensar

e a amar

para me libertar

e salvar

 

Sem números ou letras

nem outras petas e tretas

 

Iluminação!

  

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 3 de Outubro de 2012

Henrique António Pedro


 

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Uma pedra de gelo a arder


Este poema é uma pedra de gelo que arde

e se derrete

com o calor da imaginação

 

É um monte de caruma que será fogueira

se ateada pela chama

de quem o ler

para se aquecer

 

É um emaranhado de palavras

à espera de serem lidas

e sentidas com poesia

mesmo sem que tenham

rima alguma

 

É um novelo de lã que será meia

depois de tecido e fiado

pelas mãos da tecedeira

 

É o presente que será futuro

quando tiver passado que contar

 

É uma madrugada que será dia

quando o Sol raiar

 

Este poema é uma pedra de gelo

que o calor da poesia transforma em água

que levanta fervura

e vira vapor

 

É uma ideia que será iluminação

quando for gelo

a arder

 

Porque o amor só o é na dor

e sem condição

  

Vale de Salgueiro, 20 de julho de 2020

Henrique António Pedro


sexta-feira, 18 de junho de 2021

O mais certo é eu não ser eu e ser outro


Poderei ser eu mesmo, sim

e não ser mais ninguém

ainda assim

 

Poderei ter-me assumido, assim como sou

ainda no ventre de minha mãe

 

Mas pode dar-se a coincidência, também

de eu ser outro

em coexistência  com o eu que agora sou

 

Eu

um outro

ninguém

algum

ou nenhum

 

Neutro

 

Um pensamento impróprio

para consumo comum

 

O mais certo, portanto

será

quiçá

eu não ser eu

ser outro

que se ilude a si mesmo

e me engana a mim próprio

entretanto

 

Um encanto

 

Um outro que já fui

mas já não sou

 

Um outro que poderei vir a ser

mas ainda sou

 

Um outro que serei se o for

 

Um outro eu

muitos mais

ou talvez nenhum

 

O mais certo é eu não ser eu e ser outro


Vale de Salgueiro, domingo, 13 de Setembro de 2009

Henrique António Pedro


 

sábado, 29 de maio de 2021

À janela à espera da próxima revolução



À janela à espera da próxima revolução

 

Foi a vida ou talvez não

 

Talvez o Governo sem noção de Nação

que lhe atou os pés e as mãos

lhe abafou o coração

a deixou louca

 

Não lhe vendou os olhos

nem lhe tapou os ouvidos

nem lhe calou a boca

e demais sentidos

 

Continua a ver

a ouvir

a falar

atenta ao mundo

embora sem nada mais poder

por agora

que fazer

 

Esta mulher à janela é o retrato da Nação

 

Mergulhada no conformismo desconcertante

de amargura instalada no coração

angustiada

a esperança a mantém acordada

vigilante

 

Foi a vida ou talvez não

 

Talvez o Governo sem noção da Nação

 

Está atenta

à janela

preparada para o que der e vier

à espera da próxima revolução

 

Que venha ela

 

Já!

 

Mas que seja de amor

de verdade

 

De salvação!

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 18 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro



quarta-feira, 26 de maio de 2021

Onde é o além?


Deito-me

em decúbito dorsal

relaxado

livre do bem

e do mal

 

Envolto em perfeito silêncio

e escuridão

os olhos fechados sem nada ver

os ouvidos sem nada ouvir

sem sentir o coração bater

nem me dar conta de respirar

nem do tempo fluir

 

Sem me afectar a mais leve emoção

no  presente

a mais ténue saudade

do passado

a ansiedade mais débil

do futuro

 

De memória desmemorizada

de nada

e a consciência em total ausência

de tudo

 

Com o cérebro a “cerebrar”

que não a pensar

e que tento também, em vão

parar

 

Acabo por acordar

e deixar de sonhar

 

Num sopro saio do corpo

 

Passo a tudo ver

ouvir

e sentir

 

Fico sem saber

porém

para aonde ir

nem onde é o além

 

 

 

in Anamnesis

Copyright: Henrique António Pedro

1.ª Edição: Janeiro de 2016

 

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Oremos

 


Se a vida é assim tão breve

e tão curto o espaço em que nos é dado viver

e morrer

 

Se Aquele que nos criou

nos condenou

a vivermos breves anos apenas

num ponto perdido num canto do Cosmos

 

É porque o infinito

não é assim tão distante

nem a eternidade assim tão demorada

 

Nem para lá chegar será necessário tanto tempo

tão angustiado pensamento

nem tão imerecida

sorte

ou dó

 

Bastará viver a vida

com naturalidade

tão só

 

E ter fé

 

Transpor as portas da morte

pela via do amor

ao som da verdade

e orar

sem nos  equivocar

 

Jesus Cristo ressuscitou dos mortos como previsto

só Ele nos poderá dizer

como morrer

e ressuscitar

 

Oremos!

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 6 de Agosto de 2012

Henrique Pedro

 

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Vou ali e já volto



Vou ali

e já volto

 

Ali

ao virar de uma esquina da vida

a um qualquer sítio da Internet

que promete

a uma terra prometida


Vou comprar fósforos
tabaco
e o jornal

Sal para temperar o jantar
que o que havia esgotou

Podem ir comendo a sopa
e a comida que está na copa


Não me demoro
embora não saiba bem

aonde

por onde

e nem ao que vou

Talvez procurar uma mulher que me chame

me ame
e a quem amar

Poderei tropeçar num sonho
num simples poema
qual o problema?

Podem ir comendo a sopa
preciso mesmo é de apanhar

ar

de sair daqui para fora

 

Não será demorada
a minha demora

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 2 de Junho de 2009

Henrique Pedro


sábado, 8 de maio de 2021

Quem sou, não sei, nem sou


Sou

isso sei

fogo-fátuo

fagulha a cruzar o céu da vida

e do mundo

por entre miríades de estrelas

 

Um grão de areia perdido no areal

de uma praia sem fim sem ser eterna

 

Uma bolha de ar que rebenta

na espuma efémera

quando as ondas do mar deixam de bater

as arribas

ou os desejos de amar arrefecem

 

Uma folha que vicejou

e acabou por tombar

amarelenta

levada no vendaval

por entre milhares de folhas iguais

e que o jardineiro a arrasta para o monturo

pelo Outono

 

Sei que não viverei sempre

ainda assim vivo para sempre

 

Sem limites

porque o meu limite

está além do Universo

do verso do sentir

do reverso do devir

da razão do dever

e do ter que ser

 

Quem sou

não sei

nem sou 

 

Introdução à Eternidade

Copyright © Henrique Pedro

1.ª Edição, Outubro de 2013


quinta-feira, 6 de maio de 2021

A minha luta interior


Há momentos em que duvido de tudo

e não acredito em nada

nem mesmo em mim

nesse ínterim

 

Mormente se assisto impotente

ao tormento de inocentes

 

Momentos em que duvido de Deus

e dos anjos

dos homens

e do diabo

ao fim e ao cabo

 

Do corpo e da alma

do além

e da vida eterna

também

 

Do que vejo e ouço

do que sinto

e do que pressinto

 

Momentos em que não sei distinguir

a mentira da verdade

em que não acredito na felicidade

nem sei que caminho seguir

onde me refugiar

ou para onde fugir

 

Momentos em que uma só certeza me salva

porém

 

Uma luz interior

que me ilumina de uma certa fé:

A evidência do amor

imanência do bem

 

Por isso ter fé, não é

para mim

acreditar

 

É antes travar essa luta

interior

e apesar da dor

continuar

de pé

 

Ainda assim

 

 

in Introdução à Eternidade

1.ª Edição, Outubro de 2013

Copyright © Henrique Pedro (prosaYpoesia)


 

domingo, 2 de maio de 2021

Crónicas Secretas do Afeganistão XIII Poema lamento de uma mulher afegã

 


(Imagem: Pinterest)

Crónicas Secretas do Afeganistão

XIII

Poema lamento de uma mulher afegã

 

Quem me dera poder postar os meus poemas

E dar a conhecer ao mundo

Livremente

Os meus dilemas

Fazer ouvir a minha voz

Por toda a Terra

Ainda mais alto que os terríveis acordes de guerra

 

Quem me dera poder amar e ser amada

Viver o dia-a-dia e ver o dia

Como uma repetida madrugada

Liberta de véus e de vendas

Das leis horrendas

Que me convertem em vil

E abjecto

Objecto

 

Quem me dera poder ser possuída por amor

Sem ser posse de ninguém

E de ter alguém a quem ter

Sem correr o risco de morrer

 

Quem me dera poder banhar-me no mar

Desnuda

E correr pela praias

Livre das minhas saias

 

Quem me dera poder namorar nas noites de luar

Deitada na areia

Nua como a Lua

Ser dona do meu corpo

E poder correr o risco de engravidar

Sem me sentir constrangida a abortar

 

Oh, como eu gostava de poder sonhar!

De ousar ser livre

De contestar o profano e o divino

De criar e procriar

Votar

Viajar

E ser dona do meu destino

 

Por agora sou apenas mulher

E não sou nada

Nem ninguém

 

Mas um dia serei mais que mulher

E serei tudo

E serei mãe

 

Afeganistão, Ponto GPS Cabul, 30092005

Daniel Rio Livre (Repórter de guerra fictício)

 

Apostila:

De regresso a Cabul gozo um período alargado de folga. Tive ensejo de me encontrar com Elif no complexo da base em que estou aquartelado, sem ser, portanto, no decorrer das missões arriscadas que nos são atribuídas.

Falámos de tudo e com alguma surpresa da minha parte, Elif pediu-me que verte-se para português e postasse, o poema que acima se apresenta.