(Imagem:
Pinterest)
Crónicas
Secretas do Afeganistão
XIII
Poema lamento
de uma mulher afegã
Quem me dera poder postar os meus poemas
E dar a conhecer ao mundo
Livremente
Os meus dilemas
Fazer ouvir a minha voz
Por toda a Terra
Ainda mais alto que os terríveis acordes de guerra
Quem me dera poder amar e ser amada
Viver o dia-a-dia e ver o dia
Como uma repetida madrugada
Liberta de véus e de vendas
Das leis horrendas
Que me convertem em vil
E abjecto
Objecto
Quem me dera poder ser possuída por amor
Sem ser posse de ninguém
E de ter alguém a quem ter
Sem correr o risco de morrer
Quem me dera poder banhar-me no mar
Desnuda
E correr pela praias
Livre das minhas saias
Quem me dera poder namorar nas noites de luar
Deitada na areia
Nua como a Lua
Ser dona do meu corpo
E poder correr o risco de engravidar
Sem me sentir constrangida a abortar
Oh, como eu gostava de poder sonhar!
De ousar ser livre
De contestar o profano e o divino
De criar e procriar
Votar
Viajar
E ser dona do meu destino
Por agora sou apenas mulher
E não sou nada
Nem ninguém
Mas um dia serei mais que mulher
E serei tudo
E serei mãe
Afeganistão, Ponto GPS Cabul, 30092005
Daniel Rio Livre (Repórter de guerra fictício)
Apostila:
De regresso a Cabul gozo um período alargado de folga. Tive ensejo
de me encontrar com Elif no complexo da base em que estou aquartelado, sem ser,
portanto, no decorrer das missões arriscadas que nos são atribuídas.
Falámos de tudo e com alguma surpresa da minha parte, Elif pediu-me
que verte-se para português e postasse, o poema que acima se apresenta.